terça-feira, 15 de março de 2016

A influência dos pais durante a infância e sua repercussão nos relacionamentos adultos

"A história do indivíduo, depois do nascimento, depende sem dúvida dos cuidados físicos e médicos que recebe. Mas grande influência sobre ela exercem também a serenidade, a intensidade e a riqueza das emoções sentidas durante a vida pré-natal" (Mensagem aos participantes num congresso sobre a Educação Pré-Natal em 20 de Março de 1998).

Foi assim que o papa João Paulo II, escreveu sobre a importância dos cuidados maternos e paternos desde a gestação. Sabe-se que, por exemplo, os hábitos de beber e fumar durante a gravidez podem acarretar problemas de má formação e/ou outras sequelas. 

Mas também existem estudos nos quais a vida agitada do casal, repleta de brigas e confusões podem liberar uma quantidade extra de hormônios sobre o feto, formando uma criança com temperamento mais colérico ou, do contrário, uma gravidez com poucos estímulos, pode desenvolver um temperamento mais introvertido.

Na referida mensagem do papa acima, ele continua: "É de igual modo fundamental relevar a conexão que existe entre o desenvolvimento da psicologia do nascituro e o contexto da vida familiar que se move em seu redor. A harmonia dos cônjuges, o calor do lar, a serenidade da vida quotidiana repercutem-se na sua psicologia, favorecendo o seu desabrochar harmonioso".


Aqui podemos pensar nas histórias que ouvimos de nossos pais sobre nossa infância e até mesmo na história da infância de nossos pais, pois existe a influência da cultura familiar que ambos genitores herdaram de seus respectivos pais e isso, certamente, será transmitido a seus filhos.

Por exemplo, pensemos no caso de uma mulher cresceu idealizando exageradamente seu pai, tido como modelo perfeito de homem. Depois, quando se casa, perceba que o marido não corresponde a esse modelo de homem perfeito, poderá refletir sua frustração no filho, ensinando-o a rejeitar o pai e admirar o avô materno.

Outro caso muito comum, é da moça que cresceu ouvindo da mãe: "homem não presta!" Isso pode ficar registrado na sua mente e ela crescer acreditando que homem NENHUM presta. Como consequência, ela pode se relacionar, justamente com homens que confirme sua crença (a chamada "dedo-podre") e se vir a casar, pode também desqualificar o esposo e, quem sabe, até transmitir essa crença aos filhos!

Algumas pessoas supersticiosas diriam que é carma, trauma de vidas passadas etc, etc., etc.... Não! É apenas o poder da aprendizagem que vai passando de geração em geração! 

Repete-se, de geração em geração, os estímulos excessivos ou a repressão da sexualidade, agressividade, as proibições, os mandamentos, as ambições, expectativas, medos as histórias, a cultura familiar etc. 

Por exemplo, conheci uma pessoa que nunca tomou determinado remédio porque a sua mãe dizia que ele era alérgico! (quando na verdade era ela quem tinha intolerância à medicação e temia, sem razão, que o filho passasse pelo mesmo que ela passou).

Há casais que discutem por pequenas coisinhas, que, se pesquisarmos, remetem a esses aprendizados transgeracionais: a maneira de dobrar o lençóis, deixar ou não as portas dos armários abertas, passar a roupa dessa ou daquela maneira, levantar a tampa do assento sanitário, o modo de espremer a pasta, de arrumar a casa etc. 

Se esses hábitos não forem conversados, poderão se tornar um problema muito grande, gerando inúmeras discussões e um pressionando o outro para mudar.

Acontece que eu devo mudar porque eu quero oferecer meu melhor para quem eu amo. A mudança obrigada, geralmente, é passageira. É preciso que o casal compreenda que um hábito adquirido é parte de mim, parte de quem eu sou, da minha história... Quando pressiono o outro a abandoná-lo, estou, implicitamente, dizendo a ele: sua história de vida não é importante! Ao invés de minha esposa/meu esposo, noiva(o) ou namorada(o) ser Imagem e Semelhança de Deus na minha vida, quero fazê-la(o) à minha própria imagem e semelhança.

Dialogue com o seu amor e pergunte para ele(a): Que imagem tem de seu pai? Que imagem tem de sua mãe? Que imagem ele(a) tem do relacionamento dos dois? Com qual dos dois ele(a) mais se identifica?

A profundeza dessas respostas podem propiciar um conhecimento mais profundo da alma da pessoa amada.

segunda-feira, 14 de março de 2016

Como nossa infância pode influenciar nossos relacionamentos

"Cada um de nós constrói a própria personalidade em família, crescendo com a mãe e o pai, com os irmãos e as irmãs, respirando o calor da casa. A família é o lugar onde recebemos o nome, o lugar dos afetos, o espaço da intimidade, onde se aprende a arte do diálogo e da comunicação interpessoal. Na família, a pessoa toma consciência da própria dignidade" (Papa Francisco, 25/10/13).

Da mensagem do Papa, percebemos a importância da família (e da infância) na formação da pessoa: é na infância que se aprende as primeiras nossos de certo e errado, as primeiras noções de fé (a chamada "Igreja Doméstica"), é aí que se forma nosso caráter, nossa personalidade, nossa autoestima, a educação para o amor, a vida e o respeito. Sobretudo, a forma como nos relacionamos com as outras pessoas, inclusive com nosso(a) namorado(a), noivo(a) ou esposo(a).


No campo das ciências psicológicas, há muitas pesquisas que mostram como "padrões de comportamento" adquiridos na infância influenciam na vida adulta. Um segundo estudo utilizando fotos de infância de pessoas acima dos 65 anos encontrou um elo parecido entre aqueles com os maiores sorrisos nas fotos de infância, 11% se divorciaram mais tarde, comparado com 31% dos que menos sorriam.

O famoso teste do marshmallow, realizados no final dos anos de 1960 e início dos anos de 1970 na Universidade de Stanford, consistia em oferecer a crianças uma pequena recompensa (marshmallow, cookie ou um pretzel etc.) entregue imediatamente ou duas pequenas recompensas se ela esperasse até o retorno do pesquisador (depois de uma ausência de aproximadamente 15 minutos). Anos depois, descobriu-se que as crianças que conseguiram atrasar a recompensa, durante seu crescimento, mostraram-se adolescentes mais competentes tanto cognitivo quanto socialmente, alcançaram maior desempenho escolar e evidenciaram lidar melhor com a frustração e o estresse. Também, observou-se que mais tarde, estas crianças foram mais bem sucedidas na escola, nas suas carreiras, nos seus casamentos e na vida.

O fato é que muito da nossa forma de nos relacionarmos com o mundo e com as pessoas, devemos à infância, especialmente, àquilo que vimos, ouvimos ou sentimos de nossos pais e ou responsáveis.

Sabe-se que crianças que foram muito cobradas, quando crianças e exigido delas serem "modelos" ou "adultos precoces" têm uma tendência a se tornarem adultos perfeccionistas, exigentes, às vezes, até excessivamente moralizantes.

Por outro lado, quando a criança sente-se que só ganha amor se fizer isso, isto ou aquilo, pode crescer aprendendo que só será amada caso se comporte de determinada maneira. Pode gerar a tendência de se relacionar apenas com pessoas que necessitam ser ajudadas e, quem sabe, só entenderam esse tipo de linguagem de amor!

Infância muito sofrida, repleta de abandonos (reais ou imaginários) pode trazer como consequência um adormecimento em relação ao mundo e aos outros, tendência à solidão ou a fantasiar a realidade para evitar encará-la. Por outro lado, crianças que desde cedo foram estimuladas à sociabilidade tendem a ser mais autoconfiantes e flexíveis.

Se quando criança seus pais não deixavam você tomar decisões, você pode ter se tornado um adulto dependente física ou emocionalmente de uma outra pessoa. Isto poderá resultar num procura de relações em que o companheiro tenho todo o poder e controle.

Se você teve pais muito controladores, você pode ter se tornado um adulto teimoso. Teimosia é um mecanismo de defesa que as crianças adotam para escapar da vontade de seus superprotetores. Quando crescerem, elas provavelmente carregarão esse comportamento para a fase adulta.

Claro que existem muitas outras influências da infância em nossos relacionamentos atuais - algumas das quais abordaremos em outros post - mas, o importante, principalmente, nos relacionamentos amorosos (namoro, noivado e casamento) que o casal converse sobre a infância: o que você viveu? Como você se sentia? Qual a qualidade do relacionamento que você tinha com seus familiares? Amigos? Professores? Isso ajuda a entender muitas coisas sobre nossa vida atual.

Namoro é tempo de diálogos profundos sobre a história e a alma do outro, para depois, nenhum dos dois dizer ter si enganado...

Por fim, um lembrete importante, nossa infância apenas influencia nossa vida, não determina! Hábitos ruins adquiridos na infância, mesmo os traumas, medos, limitações etc. podem ser modificados, seja pelo esforço pessoal, por ajuda profissional adequada e, não nos esqueçamos, da graça de Deus!