terça-feira, 20 de junho de 2017

Corpo: ícone ou ídolo?

Vejamos primeiro a origem da palavra ícone.

A primeira vez que aparece na Bíblia é na famosa passagem em que Deus cria o homem:

“Façamos o homem e a mulher à nossa imagem e semelhança de Deus” (Gn 1,27)


Isso quer dizer que se olharmos para o homem, se olharmos para a mulher, neles tem algo que fala de Deus; se olharmos para Deus tem algo que fala do homem. Uma pergunta importante é: que imagem de Deus você tem sido para a sua pessoa amada?

Voltemos ao texto bíblico, no hebraico, usa-se a palavra "Tselem" que significa "imagem, figura, reprodução, estátua, escultura" - o sentido do homem criado à imagem de Deus se enriquece em Gn 2,7, quando Deus esculpe o homem do barro.

No texto grego, traduziu-se "tselem" por Eikona (= Imagem, réplica, cópia), de onde vem a palavra "ícone".

O Catecismo nos ensina que "por meio de seus ícones, revela-se à nossa fé o homem criado “à imagem de Deus” e transfigurado “à sua semelhança” (CIC, 1161).

São João Damasceno, em meio a disputa com os iconoclastas, dizia que “A beleza e a cor das imagens estimulam minha oração. É uma festa para os meus olhos, tanto quanto o espetáculo do campo estimula meu coração a dar glória a Deus.”

Analogamente, podemos dizer que o corpo enquanto ícone, nos ajuda a rezar, a alcançar a Deus. O corpo do outro, pode nos elevar ao céus, pensemos nas relíquias de santos, nos santos incorruptos, nas chagas dos santos... ao contempá-las, vejo um vislumbre de uma realidade maior...

No YouCat é um trecho que nos diz o mesmo acerca do namoro:

“Quem observa um casal de namorados olhando-se carinhosamente... fica com uma ideia, ainda que aproximada, do que é Céu. Pode ver Deus face a face, é como um instante de amor, único e infindável”
(Youcat, 158).

Mas há também o ídolo...

Deus proíbe a confecção de ídolos: “Portanto, não se pervertam, fazendo para vocês imagem esculpida em forma de ídolo: imagem de homem ou de mulher” (Dt 4,16). Na Bíblia hebraica, usa-se o termo "Pesel" (=Estátua, imagem, efígie, ídolo) que no grego foi traduzido por "Eidolon" (= Imagem, simulacro, ídolo).

A idolatria, ensina o Catecismo, não diz respeito somente aos falsos cultos do paganismo. Ela é uma tentação constante da fé. Consiste em divinizar o que não é Deus. Existe idolatria quando o homem presta honra e veneração a uma criatura em lugar de Deus, quer se trate de deuses ou de demônios (por exemplo, o satanismo), do poder, do prazer, da raça, dos antepassados, do Estado, do dinheiro etc. (...) A idolatria nega o senhorio exclusivo de Deus; é, portanto, incompatível com a comunhão divina. (CIC, 2113).

Perceba, portano que tanto o ídolo quanto o ícone são imagens. Acontece que o ídolo me prende à terra, à horizontalidade do aqui e agora. Ele é um simulacro, uma falsificação da realidade. Já o ícone me remete ao céu, ao transcendente, é uma janela aberta para o divino.

"O corpo de cada um de nós é ressonância de eternidade, então deve ser sempre respeitado; e, sobretudo; deve ser respeitada e amada a vida de quantos sofrem, para que sintam a proximidade do Reino de Deus, daquela condição de vida eterna para a qual caminhamos" (Papa Francisco 04/12/13)




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