Muitos conflitos no relacionamento surgem a partir de
interpretações distorcidas das ações da pessoa amada, são pensamentos
automáticos, involuntários, incontroláveis, que ocorrem em uma fração de
segundos e que, se o casal não souber questioná-los, pode trazer graves
prejuízos ao namoro, noivado e ao casamento.
O famoso psicólogo Aaron Beck classificou onze tipos de
“armadilhas psíquicas” capazes de gerar conflito nos relacionamentos:
1.
Visão em
túnel (abstração seletiva): as pessoas com “visão em túnel” só veem o que
se enquadra à sua própria atitude ou estado de espírito, ignorando o restante.
Podem, p.ex., deter-se a um minúsculo pormenor e nele fundamentar toda a
interpretação de um episódio. Outros detalhes importantes são repudiados,
censurados ou minimizados. Isso impede o casal de enxergar os bons momentos do
relacionamento e, ao olharem para trás, o que veem é uma cadeia contínua de
momentos desagradáveis.
Descobriu-se
que, com um pouco de esforço, os casais podem resolver esse tipo de distorção,
quando um ou outro começa a recordar e enumerar os momentos bons que viveram
todos os dias e, uma vez por semana, conversam sobre o assunto.
2.
Inferência
arbitrária: às vezes, a visão tendenciosa do indivíduo é tão intensa que
ele faz juízos desfavoráveis mesmo sem qualquer fundamento para eles. P. ex., a
esposa, ouve o marido cantando noutra sala e pensa “ele está fazendo isso para
me irritar”. Na realidade, ele cantava apenas porque estava feliz. Outro
exemplo: a namorada estava silenciosa no encontro e o namorado pensou “não está
falando porque está zangada comigo”; na verdade, ela – que sempre se expressava
quando se sentia irritada – estava apenas mergulhada em seus próprios
pensamentos.
3.
Generalização
excessiva. Trata-se de uma das mais comuns. São aqueles pensamentos do tipo
tudo ou nada, oito ou oitenta, carregado de termos como nunca, sempre, tudo,
todos, nenhum. P.ex., “ele nunca me
ouve”, “ela sempre me critica”; às
vezes, esses pensamentos negativos levam a conclusões desesperançosas sobre o
relacionamento: “as coisas nunca vão melhorar” ou contra a própria pessoa “sou
um fracasso como pai”
4.
Pensamento
polarizado: é o caso dos pensamentos de extremos opostos, as coisas ou são
boas ou más, pretas ou brancas, possíveis ou impossíveis, desejáveis ou
indesejáveis, não há pontos intermediários. P.ex., para um perfeccionista, se o
desempenho não for perfeito, então terá sido um completo fracasso; outro
pensamento típico “ou sua família ou eu”, “ou me submeto ou termino o namoro” –
em ambos casos o conflito poderia se negociar um meio termo através do diálogo.
5.
Amplificação:
são os chamados pensamentos catastróficos ou terrificantes, do tipo “fazer
tempestade em copo d’água”. Isso ocorre por se dá grande importância às
consequências desse ou daquele episódio. P.ex., o namorado não gostou de a
namorada ter mentido para ele, então pensou “agora não posso mais confiar
nela”, “se é assim agora, vai piorar quando nos casarmos”, “é terrível ela
esconder coisas de mim”. Pensamentos assim, revelam a baixa tolerância à
frustração.
6.
Explicações
tendenciosas. Outro tipo de pensamento muito comum. Trata-se de presumir automaticamente que há má-fé por trás das atitudes do outro é reflexo de um modelo mais geral de raciocínio em que se atribui casas para os comportamentos, bons ou maus. P.ex., o namorado que atribui a crise no relacionamento jogando a culpa numa grave falha de caráter da namorada, "tudo é por causa de sua negligência", a mulher pensa "tudo é por causa do seu gênio impulsivo".
7.
Rotulação
negativa: é um processo que decorre das atribuições tendenciosas. P.ex.,
quando a esposa descobre uma explicação negativa para os atos do marido, é
possível que lhe coloque um rótulo crítico. Assim, o marido se transforma num
“irresponsável” e a esposa agressora numa “besta” ou numa “idiota”. A esposa
ofendida passa assim a reagir segundo os rótulos que colocou no marido como se
fossem reais – como se ao chama-lo de tirano ele fosse realmente um tirano.
8.
Personalização:
trata-se de colocar-se como responsável por um acontecimento, sendo que os
resultados são consequências de fatores externos incontroláveis. O indivíduo
também acredita que o resultado negativo acarreta uma atenção negativa para si
(todos estão me olhando feio). P.ex., “meu marido perdeu o emprego porque eu
lhe trago azar”
9.
Leitura
dos pensamentos: quem acredita ser capaz de ler o que o outro pensa cai
numa armadilha: supõe ver no outro pensamentos e motivos para as atitudes
demonstradas que de forma alguma se justificam. Embora, por vezes, acertem, são
propensos a erros que prejudicam muito o relacionamento. Outro erro comum é a expectativa
de clarividência por parte do(a) parceiro(a): “ela devia saber que não gosto
disso”, “ele devia saber o que eu quero”. Não, não deveria! É preciso que você
se expresse claramente para que o outro saiba o que você quer.
10.
Raciocínio
subjetivo: é a supervalorização das emoções pessoais. Tem-se aí a seguinte
crença: quando se sente forte emoção, então esta tem fundamento, está
justificada. P.ex., se me sinto ansioso, é porque ela não foi boa para mim. Se estou
triste, significa que ela não gosta de mim. Uma variante desses erros
cognitivos decorre da responsabilidade excessiva. A esposa que assume a
responsabilidade total pelo bem-estar da família pode se saturar de um
sentimento de ultraje e silenciosamente acusar o marido: ele não corresponde às
expectativas: deveria também suportar o ônus da responsabilidade.
Em
muitos casos é necessário ajuda psicológica para enfrentar os pensamentos
automáticos recorrentes, principalmente, quando causa graves prejuízos ao
convívio a dois.
Alguns
conselhos práticos podem ser utilizados para combater essas distorções:
·
Detenha-se aos fatos: controle a sua imaginação
e caso não encontre provas concretas de que algo corresponde à realidade, não
tome isso como verdade;
·
Busque analisar os fatos de maneira integral;
·
Evite as generalizações exageradas;
·
Questione suas conclusões, às vezes, você pode
estar errado!
·
Lembre-se: você não possui superpoderes! Tiver
dúvidas, pergunte. O diálogo é sempre melhor do que supor.