sexta-feira, 17 de julho de 2015

11 tipos de pensamento que podem destruir qualquer relacionamento amoroso

Muitos conflitos no relacionamento surgem a partir de interpretações distorcidas das ações da pessoa amada, são pensamentos automáticos, involuntários, incontroláveis, que ocorrem em uma fração de segundos e que, se o casal não souber questioná-los, pode trazer graves prejuízos ao namoro, noivado e ao casamento.
 
 
O famoso psicólogo Aaron Beck classificou onze tipos de “armadilhas psíquicas” capazes de gerar conflito nos relacionamentos:
1.                   Visão em túnel (abstração seletiva): as pessoas com “visão em túnel” só veem o que se enquadra à sua própria atitude ou estado de espírito, ignorando o restante. Podem, p.ex., deter-se a um minúsculo pormenor e nele fundamentar toda a interpretação de um episódio. Outros detalhes importantes são repudiados, censurados ou minimizados. Isso impede o casal de enxergar os bons momentos do relacionamento e, ao olharem para trás, o que veem é uma cadeia contínua de momentos desagradáveis.
Descobriu-se que, com um pouco de esforço, os casais podem resolver esse tipo de distorção, quando um ou outro começa a recordar e enumerar os momentos bons que viveram todos os dias e, uma vez por semana, conversam sobre o assunto.
2.                   Inferência arbitrária: às vezes, a visão tendenciosa do indivíduo é tão intensa que ele faz juízos desfavoráveis mesmo sem qualquer fundamento para eles. P. ex., a esposa, ouve o marido cantando noutra sala e pensa “ele está fazendo isso para me irritar”. Na realidade, ele cantava apenas porque estava feliz. Outro exemplo: a namorada estava silenciosa no encontro e o namorado pensou “não está falando porque está zangada comigo”; na verdade, ela – que sempre se expressava quando se sentia irritada – estava apenas mergulhada em seus próprios pensamentos.
3.                   Generalização excessiva. Trata-se de uma das mais comuns. São aqueles pensamentos do tipo tudo ou nada, oito ou oitenta, carregado de termos como nunca, sempre, tudo, todos, nenhum. P.ex., “ele nunca me ouve”, “ela sempre me critica”; às vezes, esses pensamentos negativos levam a conclusões desesperançosas sobre o relacionamento: “as coisas nunca vão melhorar” ou contra a própria pessoa “sou um fracasso como pai”
4.                   Pensamento polarizado: é o caso dos pensamentos de extremos opostos, as coisas ou são boas ou más, pretas ou brancas, possíveis ou impossíveis, desejáveis ou indesejáveis, não há pontos intermediários. P.ex., para um perfeccionista, se o desempenho não for perfeito, então terá sido um completo fracasso; outro pensamento típico “ou sua família ou eu”, “ou me submeto ou termino o namoro” – em ambos casos o conflito poderia se negociar um meio termo através do diálogo.  
5.                   Amplificação: são os chamados pensamentos catastróficos ou terrificantes, do tipo “fazer tempestade em copo d’água”. Isso ocorre por se dá grande importância às consequências desse ou daquele episódio. P.ex., o namorado não gostou de a namorada ter mentido para ele, então pensou “agora não posso mais confiar nela”, “se é assim agora, vai piorar quando nos casarmos”, “é terrível ela esconder coisas de mim”. Pensamentos assim, revelam a baixa tolerância à frustração.
6.                   Explicações tendenciosas. Outro tipo de pensamento muito comum. Trata-se de presumir automaticamente que há má-fé por trás das atitudes do outro é reflexo de um modelo mais geral de raciocínio em que se atribui casas para os comportamentos, bons ou maus. P.ex., o namorado que atribui a crise no relacionamento jogando a culpa numa grave falha de caráter da namorada, "tudo é por causa de sua negligência", a mulher pensa "tudo é por causa do seu gênio impulsivo".
7.                   Rotulação negativa: é um processo que decorre das atribuições tendenciosas. P.ex., quando a esposa descobre uma explicação negativa para os atos do marido, é possível que lhe coloque um rótulo crítico. Assim, o marido se transforma num “irresponsável” e a esposa agressora numa “besta” ou numa “idiota”. A esposa ofendida passa assim a reagir segundo os rótulos que colocou no marido como se fossem reais – como se ao chama-lo de tirano ele fosse realmente um tirano.
8.                   Personalização: trata-se de colocar-se como responsável por um acontecimento, sendo que os resultados são consequências de fatores externos incontroláveis. O indivíduo também acredita que o resultado negativo acarreta uma atenção negativa para si (todos estão me olhando feio). P.ex., “meu marido perdeu o emprego porque eu lhe trago azar”
9.                   Leitura dos pensamentos: quem acredita ser capaz de ler o que o outro pensa cai numa armadilha: supõe ver no outro pensamentos e motivos para as atitudes demonstradas que de forma alguma se justificam. Embora, por vezes, acertem, são propensos a erros que prejudicam muito o relacionamento. Outro erro comum é a expectativa de clarividência por parte do(a) parceiro(a): “ela devia saber que não gosto disso”, “ele devia saber o que eu quero”. Não, não deveria! É preciso que você se expresse claramente para que o outro saiba o que você quer.
10.               Raciocínio subjetivo: é a supervalorização das emoções pessoais. Tem-se aí a seguinte crença: quando se sente forte emoção, então esta tem fundamento, está justificada. P.ex., se me sinto ansioso, é porque ela não foi boa para mim. Se estou triste, significa que ela não gosta de mim. Uma variante desses erros cognitivos decorre da responsabilidade excessiva. A esposa que assume a responsabilidade total pelo bem-estar da família pode se saturar de um sentimento de ultraje e silenciosamente acusar o marido: ele não corresponde às expectativas: deveria também suportar o ônus da responsabilidade.
Em muitos casos é necessário ajuda psicológica para enfrentar os pensamentos automáticos recorrentes, principalmente, quando causa graves prejuízos ao convívio a dois.
Alguns conselhos práticos podem ser utilizados para combater essas distorções:
·         Detenha-se aos fatos: controle a sua imaginação e caso não encontre provas concretas de que algo corresponde à realidade, não tome isso como verdade;
·         Busque analisar os fatos de maneira integral;
·         Evite as generalizações exageradas;
·         Questione suas conclusões, às vezes, você pode estar errado!
·         Lembre-se: você não possui superpoderes! Tiver dúvidas, pergunte. O diálogo é sempre melhor do que supor.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Namorados violentos tendem a tornar-se maridos agressivos, assinala estudioso

Artigo muito interessante extraído do blog do Carmadélio
 
Um namoro atormentado pode acabar em maltrato durante a vida matrimonial.
 
Luca Pasquale, membro do Pontifício instituto João Paulo II de Roma para os estudos sobre o matrimônio e a família, compartilhou alguns pontos chaves para detectar os sintomas de um namoro que fará mal à vida matrimonial.
 
Conforme explica Pasquale, autor de várias publicações dedicadas ao cuidado familiar, o maltrato afeta todas as classes sociais, idades, cidades pequenas e grandes metrópoles e não tem relação com a profissão ou sucessos alcançados.
 
Pasquale assinala que durante o namoro qualquer ato de violência é inaceitável, não deve ser tolerado, e deve ser denunciado imediatamente tanto durante o namoro como no matrimônio. “A frase ‘estava nervoso’ não é uma desculpa para levantar a mão”, destaca.
 
“Se a pessoa que temos ao lado demonstra com as suas palavras e com o seu comportamento, que não tem nenhuma estima por nós, significa que as coisas não estão bem. Menosprezar uma pessoa e coloca-la em condições de submissão, como impedir que tenha um trabalho, amizades, criticá-la e ridicularizá-la, são outras formas sutis de violência que prejudicam o casal”, acrescenta.
 
Para Pasquale, que também é especialista em família do Centro para a Pastoral Familiar da Diocese de Roma, outro exemplo de sinais negativos no namoro é que o companheiro minta sistematicamente, oculte algo ou esconda parte de sua vida. “Se isso acontecer, então deveríamos nos preocupar, porque no casal isso não deveria acontecer”, adiciona.
 
“Não é um bom sinal que tenham vergonha daquilo que está no próprio celular: mensagens, ligações, fotos… a vida, sonhos, desejos, contatos, relações pessoais de cada um dos dois devem ser transparentes”.
 
O especialista afirma que para que o relacionamento seja algo saudável, o respeito pela pessoa deve estar na base da relação: “amor, sacrifício de um pelo outro, compartilhar a vida, os projetos da vida…”.
 
Se não houver respeito pela pessoa, diz Pasquale, o casal está em risco de converter-se em algo como “um objeto para os outros, e neste caso, não teria nenhuma diferença em ter uma menina linda ou um telefone bom ou um carro bom”, lamenta.
 
Por último Pasquale recorda que os valores que a Igreja promove são fundamentais para todos na hora de alcançar um namoro saudável que dê lugar a um matrimônio e uma família unidos.
 
“Sem dúvida, na educação estão diminuindo os valores de referência que devem guiar uma relação. Um valor é um pilar nas escolhas: precisamos partir pelo menos de um ponto de referência. A fé cristã indica os valores que podem ser aplicados a todos: cristãos ou não cristãos”, conclui.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Oito formas de amar altamente perigosas

O psicólogo Walter Riso reuniu em seu livro, “Amores de Alto Risco” (Editora L&PM) uma seleção de oito perfis psicológicos que podem desenvolver formas perigosas de conduzir as relações amorosas. Eles trazem consigo antivalores que se opõem ao desenvolvimento normal do afeto. Nesses casos, é necessário, muitas vezes, ajuda profissional.
 
 
1.     Estilo histriônico e seu amor torturante e teatral. O caráter assediado, perturbado, exibicionista e teatral desse tipo de personalidade se opõe a simplicidade e espontaneidade do amor. Pessoas assim buscam sempre chamar atenção, ser o centro, são excessivamente emotivas. No início, as suas relações afetivas estão impregnadas de uma paixão frenética e fora de controle, depois, costumam terminar de maneira drástica e tormentosa.
2.    A desconfiança do paranoico rompe um princípio básico do amor: a confiança, a segurança; saber que a pessoa que você ama não te fará nenhum dano intencional. Esse estilo de amar é carregado de suspeita e se converte em tortura.
3.    O amor subversivo do tipo passivo-agressivo. Nesse tipo de relação há o conflito de autoridade e a incapacidade de se estabelecer uma forma adequada de autonomia, sem recorrer à tortura psicológica. Falta honestidade emocional, o que se opõe a assertividade que o amor exige: é preciso saber expressar os sentimentos negativos de maneira socialmente aceita.
4.     Estilo egoísta e egocêntrico do narcisista o afasta radicalmente dos valores da humildade e da solidariedade. Não é possível um amor saudável se um dos dois se sente superior ao outro. Aqui, há a dificuldade em reconhecer a própria insuficiência e fraqueza.
5.     O amor perfeccionista e controlador do obsessivo-compulsivo configuram uma mente rígida, apegada a sistematização. O amor fica sufocado diante de tantas regras e condições, não só perde a liberdade como também impede o desenvolvimento. Um amor rígido atrofia. O estilo obsessivo também se opõe a admiração – pode até existir admiração sem amor, mas não há amor sem admiração. O gosto pela essência do outro, por suas conquistas, pelo que ele representa como pessoa, é impossível se a atenção está focalizada em seus erros.
6.     Estilo antissocial e seu amor violento.  A violência que pratica o sujeito antissocial é um antivalor que afeta todas as áreas interpessoais. A combatividade, a explosão e depredação que o caracterizam impedem que se desenvolva valores imprescindíveis para o amor, como a simpatia e a reciprocidade. Se há violência, o respeito desaparece. Falta-lhe a doçura capaz de se negar a fazer o outro sofrer, opondo-se a brutalidade e a crueldade.
7.     Estilo esquizoide e seu amor indiferente. Aqui o outro não é visto, nem sentido, o amor parece desvinculado, frio e distante. Esta apatia emocional se opõe a valores como ternura e empatia. O esquizoide tem dificuldade em se conectar emocionalmente, falta-lhe a capacidade de manifestações de afeto (ternura, carícias, sorrisos, abraços, beijos). A expressão de sentimentos positivos é, talvez, o principal alimento de uma relação amorosa – quando não se tem participação emocional na vida do outro, o amor se atrofia porque perde seu sentido vital.
8.     O amor caótico da personalidade limítrofe. A pessoa bordeline vive em um turbilhão emocional, é descontrolada, instável, falta-lhe paz interior e a raiva transborda com ímpeto. Ela não se sente dona de suas próprias emoções, seu mundo interno é uma bagunça, carece de autocontrole e autoconhecimento.

terça-feira, 14 de julho de 2015

Duas atitudes que precisamos equilibrar no namoro

Foi o famoso psicólogo Gustave Jung que, em 1921, trouxe uma importante contribuição para o entendimento dos “tipos humanos”, ou seja, a forma como as pessoas se relacionam com o mundo, seus interesses, referências, habilidades e disposições, como elas (re)agem diante de uma determinada situação.
Em seu entender, existem duas atitudes básicas: focar sua atenção no mundo externo (extroversão) ou no mundo interno (introversão).
Introvertido é aquele que tem interesse no mundo interior (ideias, pensamentos, sentimentos, abstrações, especulação filosófica). É reservado, pode parecer distante, distraído, interage pouco com as pessoas, prefere a solidão. É comedido, pensa muito antes de falar e agir, costuma guardar suas emoções e sente dificuldade em se expressar.
Já o extrovertido é o oposto: explosivo, impulsivo, fala e age sem pensar, gosta de interagir com as pessoas, é comunicativo, espontâneo, gosta de coisas práticas, é sociável, acessível, geralmente, descarrega as emoções na medida em que surgem.
Verdade que nenhum ser humano é exclusivamente extrovertido nem introvertido, ambas atitudes existem dentro de nós e variam de acordo com o momento como forma de adaptação. Entretanto, na maior parte do tempo, adotamos uma dessas atitudes, o que a torna parte de nossa personalidade.
Imaginemos uma pessoa que seja totalmente introvertida. Esse indivíduo seria egoísta, indiferente para com as necessidades dos outros, solitário, evitaria diálogos, guardaria suas raivas e frustrações e para explodi-las de maneira desproporcional em um momento fora de contexto.
Pensemos, agora, no caso de alguém se volta demais para o mundo externo. Ele correria o risco de ser superficial e hedonista; poderia apresentar dificuldade em criar vínculos duradouros e de fidelidade, pois tenderá a buscar sempre novos estímulos.
Suponhamos que haja um casal de introvertidos. Para os outros, esse relacionamento parece frio e distante, cada qual no seu canto, regado a discussões “filosóficas” e longos silêncios. Provável que um respeite o espaço e a privacidade do outro, porém, em alguns momentos, um pode se sentir ignorado pelo outro. Esse tipo de casal tende a se isolar dos demais, o perigo é lidar sozinho com os conflitos emocionais.
Imaginemos como seria o namoro de um casal de extrovertidos como descrevemos acima. O relacionamento pode parecer intenso, repleto de passatempos criativos, aventura, sempre estão buscando fugir do tédio e novos prazeres, o que corre o risco de os vínculos se desfazerem facilmente caso deixe de ser interessante.
um namoro entre uma pessoa introvertida e outra extrovertida pode resultar naquele casal em que um fica em casa e o outro comparece aos eventos sociais. O introvertido pode se sentir emocionalmente exausto ao ser obrigado a comparecer a esses compromissos, enquanto o extrovertido pode achar entediante ficar em casa.
O extrovertido pode se tornar a “voz” do casal, reforçando ainda mais a dificuldade do introvertido de interação. Este pode acusar o outro de superficial, ao passo, que o extrovertido o julga “lento”. Caso não seja bem administradas essas diferenças podem resultar em distanciamento cada vez maior do casal.  
Introversão e extroversão são atitudes que surgiram pela combinação complexa de elementos genéticos e elementos aprendidos através dos pais, da escola, da cultura, da experiência de cada um. Isso significa que de alguma forma, podemos aperfeiçoar nossas características de introvertidos ou de extrovertidos.
Para um outro psicólogo, Abraham Maslow, é necessário o equilíbrio entre interioridade e exterioridade a fim de que a pessoa se sinta inteira. Isso também se aplica ao namoro.
Interioridade implica que a pessoa se explorou e se experienciou. Ela está ciente da vitalidade de seus sentidos, emoções, mente e vontade; não teme nem desconhece as atividades de seu corpo e de suas emoções.
Interioridade implica autoaceitação, sentir-se a vontade com seu corpo, com suas emoções, tanto ternas quanto hostis, com seus impulsos, pensamentos e desejos. Não apenas estar à vontade com o que já experimentou, mas também aberto à novas sensações. Aceitar que sua condição interna possa mudar constantemente, reconhecer seu potencial, no entanto, ser realista com suas limitações; não ficar sonhando com alguém que quer ser, nem passar o resto da vida se convencendo de que é essa pessoa. Quem se volta de maneira adequada ao seu interior se escuta e se ama como realmente é. Confia em suas habilidades e recursos por que ver nisso dom de Deus e parte de quem ela é.
Por outro lado, uma atitude de exterioridade saudável implica que a pessoa está aberta não só ao seu interior, mas também ao ambiente que a cerca. A pessoa inteira estabelece com o outro (namorado, noivo esposa) um contato profundo e significativo. Não só escuta a si, como também não é indiferente ao sofrimento do outro, torna-se sensível, empático, solidário.
A exterioridade atinge seu ápice na habilidade de dar amor livremente. A pessoa inteira pode sair de si, pode se comprometer com uma causa em direção ao outro e a Deus e quando isso acontece, os nossos relacionamentos se enriquecem.
Namoro é tempo de crescimento mútuo, o extrovertido pode aprender com seu par introvertido acerca do mundo interior, enquanto este pode aprender daquele, habilidades interpessoais, olhar para o outro com misericórdia. Mas, para isso, é necessário respeitar o tempo de cada um. Quem entende o namoro dessa forma, compreende que o outro não é qualquer coisa, mas um dom de Deus e aos dons do Senhor precisamos ser gratos e cultivá-los.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Relações sexuais pré-matrimoniais em casa?!

D. Estêvão Bettencourt analisa a prática de alguns pais que permitem que seus filhos tenham relações com suas namoradas em casa, alegando "segurança" e aborda o sentido da sexualidade cristã.



A revista FAMÍLIA CRISTÃ de março 2003, pp. 42s, publicou uma reportagem que tem por subtítulo: "Em nome da segurança, muitas famílias flexibilizam seus padrões morais e permitem que os filhos mantenham relações sexuais em casa". A reportagem começa com a seguinte observação:

"A cena pode estar ocorrendo agora: um jovem de 16 anos recebe em casa, no seu quarto, a namorada de 15 anos e os dois mantêm relações sexuais. Com autorização dos pais da garota e dos do jovem. Este comportamento foi percebido em uma pesquisa, realizada há dois anos pelo Instituto de Medicina Social da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), Instituto de Saúde Coletiva da UFB (Universidade Federal da Bahia) e Núcleo de Antropologia do Corpo e Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que ouviu 120 jovens de Salvador, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Segundo o levantamento, muitas famílias preferem que as relações sexuais de seus filhos ocorram em casa, optando pelo "mal menor". Sob o mesmo teto, os jovens estão longe da violência urbana e os pais têm oportunidade de dialogar com o "casal" sobre questões ligadas à sexualidade, como uso de preservativos, prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e até ajudar a evitar uma gravidez precoce" (p. 42).                           

A aprovação deste procedimento é formulada de diversos modos no decorrer do artigo, levantando-se o testemunho do Prof. Dorivaldo Pires de Camargo, docente de Ética no ITESP ou Instituto de Teologia de São Paulo:

"A ética renovada, iniciada a partir do Concílio Vaticano II, vê homens e mulheres como seres humanos integrais e compreende suas naturezas carentes e necessidades vitais. Não estou, com isso, justificando nada e, menos ainda, deixando de justificar. Mas o fato de um homem transar em casa não deve ser alvo de um julgamento precipitado ou de uma condenação, mas algo que propõe um diálogo mais aberto entre pais e filhos, sem hipocrisia, tabus ou aceitação de normas fixas que sirvam para todos" (p. 42).                                                                   

A propósito comenta Mariângela Mantovani:

"O que assusta não é tanto o jovem transar ou não em casa, mas a idade cada vez mais tenra com que eles iniciam suas vidas sexuais. Embora com 12 ou 13 anos, uma garota possa estar com o corpo pronto para ter relações, nem sempre a cabeça está" (p. 43).                                      
QUE DIZER?
Antes do mais, convém averiguar que sentido possam ter as relações sexuais pré-matrimoniais.
1. Relações pré-matrimoniais: avaliação
Amar é querer bem um ao outro;
implica doação ou entrega,
para que o bem do ser amado possa ser atingido.
Ora o amor que surge entre jovens solteiros é algo que vai crescendo: atravessa as fases do namoro e do noivado para chegar ao casamento. Só no matrimônio é que ocorre a união plena e comprometida entre os cônjuges; somente então existe o ambiente adequado para as relações sexuais, que supõem um lar e amor estável entre esposo e esposa para que possam educar seus filhos.
Sinal evidente de que as relações pré-matrimoniais estão fora de propósito é o fato de que são geralmente acompanhadas por anticoncepcionais e outros artifícios; induzem os interessados a mutilar a natureza, que por si é unitiva e fecunda. Se não se tomam tais cautelas, dá-se o perigo de engravidamento indesejado, que não raro termina com abortamento.
Com outras palavras:
A relação sexual é algo de tão íntimo e profundo que ela
 não pode ser a primeira demonstração do amor 
nascente; é, antes, a expressão suprema da maturação 
da consolidação desse amor. Unir-se sexualmente 
significa doar-se por completo e, por conseguinte, 
comprometer-se totalmente.
Quem separa a sexualidade do amor comprometido, procura apenas o prazer egoísta anexo às relações sexuais; esse prazer não é a finalidade da sexualidade, mas é algo que o Criador acrescentou à vida sexual para facilitar o desempenho da sua função unitiva e fecunda ([1]).
As relações entre sexualidade e amor podem ser assim expostas:
a) Prostituição: é a relação entre "anônimos", que muitas vezes não têm amor mútuo;
b) Amor livre: é a relação entre pessoas que se conhecem e amam mutuamente, mas sem compromisso ou sem assumirem definitivamente o seu consórcio;
c) Noivado: é amor, já, de certo modo, comprometido, mas ainda com reservas, podendo cada qual afastar-se;
d) Casamento: amor comprometido e duradouro, clima apto para a doação sexual, ao passo que nos três casos anteriores esta é despropositada.
2. As razões em prol das relações pré-matrimoniais
Costuma-se aduzir as três seguintes:
1) "É preciso testar o amor (a vida sexual) antes do casamento para evitar os fracassos posteriores".
Respondemos:
O teste sexual anterior ao casamento
não prova que os dois parceiros poderão
viver felizes a sua vida conjugal.
Esta implica convivência diária e partilha de responsabilidades, lutas, alegrias... - o que exige uma verdadeira conversão do coração, cujo alcance é muito mais amplo do que o do relacionamento sexual.
2) "O contrato matrimonial vem a ser mera formalidade. Não é o papel que faz o amor!"
Em resposta, devemos reconhecer que, de fato, o papel não é o essencial no casamento, mas é o amor. Todavia o papel lembra
A doação plena; é como que um espelho e um sinal que argui e que pode incomodar.
Ademais o casamento não é função que interesse a dois indivíduos apenas; não se pode viver o casamento em foro meramente privado e individualista; sem inserção corajosa e oficial dentro da comunidade, o amor corre o risco de ser mero egoísmo e manipulação do parceiro; é o nós da sociedade que lhe dá apoio para se consolidar. Por isto tanto os nubentes quanto a sociedade devem estar interessados na regulamentação ética e jurídica da vida conjugal. A sociedade compartilha, de certo modo, a vida dos seus casais, alegrando-se e entristecendo-se com eles.
3) "Hoje em dia os jovens têm que esperar anos para adquirir posição profissional definida e a estabilidade financeira necessária ao casamento. A longa espera gera impaciência, principalmente numa sociedade erotizante como a nossa".
Em resposta, observamos que um mal não se cura com outro mal. Aliás,
A espera também tem seus aspectos positivos;
fortalece a vontade, permite o aprimoramento da formação
humana e moral dos noivos...
Ademais quem não sabe dizer Não a si mesmo antes do casamento, dificilmente o dirá depois.
O problema dos impulsos sexuais depende muito das convicções de cada pessoa: quem julga que o imperativo do sexo é inexorável e deve ser atendido imediatamente, sentirá atrativos sexuais veementes; ao contrário, quem tem a convicção de que a vida sexual é a expressão consumada (e não inicial) do amor, não dará tanta importância aos apelos eróticos e saberá viver a continência com mais facilidade. Já se tem dito que o cérebro, com a sua fantasia e a sua memória, é a principal glândula sexual do organismo humano; e com razão... A continência dependerá, em grande parte, das convicções pessoais dos interessados; se alguém não acredita nela, não conseguirá praticá-la.
3. E o mal menor?
A Teologia Moral ensina que, quando alguém é obrigado a escolher entre alternativas moralmente más, deve escolher o mal menor. Ora, raciocinam alguns escritores, os casais estão diante de um dilema: ou deixam os filhos "transar" fora do casamento, correndo os riscos da violência e da promiscuidade, ou trazem para casa os namorados a fim de não enfrentarem tais riscos. Esta segunda alternativa representa o mal menor e, segundo parece, deve ser escolhida.
Respondemos que o princípio é válido, mas não se aplica ao caso em foco. Na verdade, este comporta uma terceira opção:
Ministrar aos adolescentes e jovens uma escala de valores que
 mostre o papel da sexualidade humana no conjunto dos valores
da personalidade, enfatizar que o sexo não é um imperativo
diante do qual não é possível a abstinência,
apresentar as etapas da auto-realização,
a genitalidade vivenciada dentro do matrimônio...
Em suma, será necessário reformular a educação para que leve o educando a escalonar suas aspirações de acordo com o Fim Supremo do homem, que é transcendental.
Seria este o autêntico dever dos pais hoje, em vez de abrirem as portas para que possam os filhos "transar" em casa.
E qual é esse genuíno significado da sexualidade humana?
4. A sexualidade humana
Fisiologicamente considerado, o ser humano parece igualar-se aos animais quanto ao sexo. Todavia a sexualidade serve precisamente para diferenciar os homens e os Irracionais. Com efeito; nestes o sexo é instintivo, correspondendo a mera necessidade da natureza. No ser humano, ao contrário, 

A sexualidade integra uma personalidade que tem seu ideal ou 
que é animada por uma alma espiritual, capaz de transcender os 
bens materiais e visíveis. Isto dá um sentido novo à sexualidade, 
fazendo-a participar da nobreza da vida espiritual.
A sexualidade no homem está a serviço da plena realização do ideal de cada um. Donde se segue que ela não é plenamente humana se se limita ao ato sexual, como nos animais. Ela tende a efetuar uma comunhão de pessoas no casamento e à educação da prole, que traz a imagem e a semelhança de Deus.
Estas afirmações nada têm que ver com o pansexualismo de Sigmund Freud. Segundo este, a sexualidade comanda consciente ou inconscientemente a vida psíquica. Ao contrário, dizemos que é o espírito que comanda a sexualidade ou que o amor de benevolência, concebido pelo espírito, dirige a sexualidade. Vemos, pois, que 

A sexualidade, no ser humano, não é valor absoluto e 
autônomo, mas também não deve ser recalcada e pisoteada, 
mas, sim, dirigida para construir o ideal da personalidade. 

Quem recalca sistematicamente a sexualidade, arrisca-se a sofrer incursões sorrateiras e bestiais da mesma: "O homem não é nem anjo nem besta; desgraçadamente, porém, quem quer bancar o anjo, torna-se besta" (Blaise Pascal).
Essa orientação harmoniosa da sexualidade é o que se chama a virtude da castidade; vale tanto para a vida dos solteiros como para a dos casados.
No celibato e na vida una, não há recalque da sexualidade, mas transferência da sua direção para o Criador e, indistintamente, para todos aqueles que Deus ama.

domingo, 12 de julho de 2015

D. Estêvão sobre a virgindade

D. Estêvão Bettencourt analisa reportagem sobre a virgindade e expõe a perspectiva católica sobre o assunto.
O jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, em sua edição de 16/09/07, publicou um caderno feminino sobre virgindade e casamento. De modo especial destaca-se a reportagem das pp. 10, 11 e 12, que tem por título "Sexo sob controle". A seguir, será transcrita essa reportagem, à qual se seguirão alguns comentários.
OS VALORES SEXUAIS MUDARAM TANTO QUE, HOJE, SER VIRGEM VIROU MOTIVO DE VERGONHA PARA A MAIORIA
Ciça Vallerio
Virgindade parece até um delito nos dias atuais. Com algumas exceções, os virgens entrevistados para esta reportagem pediram para não serem identificados, muito menos fotografados. Falar do tema parecia confissão de um crime. E, quanto mais avançada a idade, maior a preocupação com o anonimato. Três amigas universitárias, todas de 20 anos, optaram por pseudônimos e não quiseram divulgar sequer o curso que fazem - para não dar pistas. "Fico com vergonha", diz Carolina. "Confessar para minhas amigas, tudo bem, mas o problema são os meninos".
As outras amigas também se explicam. "Somos consideradas bonitas e acho que não divulgar isso (que são virgens) é uma questão de segurança", diz Amanda. "Os colegas de faculdade podem querer fazer apostas para ver quem tira a nossa virgindade, dopar a gente em alguma festa, por isso o melhor é a discrição". Rafaela completa: "Não transamos ainda porque queremos que seja especial, não com qualquer um. Não temos pressa alguma".
Se para elas foi difícil falar do assunto, imagine para uma mulher de 30 anos, virgem. A auxiliar administrativa, Cláudia (pseudônimo), confessa que esse tema tornou-se um peso em sua vida. "Adiei tanto que, agora, ficou ainda mais difícil de resolver", conta. "Mais do que nunca, estou empenhada em conhecer alguém legal para transar, mas avalio demais os pretendentes, fantasio um cara perfeito, e acabo desistindo por algum motivo".
Além de idealizar um príncipe que nunca veio, Cláudia conta que priorizou os estudos, por isso o tempo foi passando e nada. Hoje se arrepende. No bate-papo com as amigas, quando o assunto é sexo, ela se sente deslocada. Diz que a falta dessa experiência é um vazio em sua vida. Pior, esconde sua virgindade.
Outros tempos
O tema virgindade passou por uma mudança radical. Há décadas, ser virgem era prerrogativa para conseguir um bom casamento, ser respeitada na sociedade e na família. A regra valia para as mulheres, uma vez que o sexo precoce sempre foi incentivado entre os homens. Mas, agora, quem não transa - seja homem seja mulher - é malvisto. A médica ginecologista Albertina Duarte Takiuti, coordenadora do Programa Estadual do Adolescente da Secretaria Estadual da Saúde, trabalha com jovens de 1971 e acompanhou de perto essa virada.
Na época em que começou a atender, chegavam ao ambulatório do Hospital das Clínicas meninas desesperadas, que lhe confessavam aos sussurros: "tenho uma coisa grave para falar para a senhora: perdi minha virgindade, e minha vida acabou!" Outras chegavam chorando, logo após a lua-de-mel, dizendo que não haviam sangrado e, portanto, os maridos achariam que já não eram virgens antes. Quando a médica explicava que, dependendo do tipo de hímen, não há sangramento na primeira relação, a paciente ficava tão grata que a beijava. Outras pediam para que a médica falasse isso diretamente para os parceiros.
Agora a história é outra. Durante o atendimento, adolescentes virgens chegam envergonhados por não terem tido ainda uma relação sexual. Albertina escuta dos pacientes: "você não vai acreditar, mas sou virgem" ou "você vai rir de mim, me sinto um ET, não tenho nem coragem de falar: nunca transei" ou "tenho 25 anos, não tem nada de errado comigo, mas sou virgem." E por aí vai.
Segundo Albertina - uma das referências nacionais quando o assunto é sexualidade na adolescência -, a revolução sexual que surgiu nos anos 60 atingiu algumas poucas pessoas. Para grande parte da população, a valorização da virgindade ainda estava muito presente nos anos 70 e 80. Mas foi se dissipando na década seguinte.
"O hímen funcionava como moeda de troca, e as meninas se sentiam extremamente desvalorizadas quando deixavam de ser virgens", lembra a ginecologista. "Passadas algumas décadas, os meninos não davam tanta importância a isso, as meninas é que valorizavam muito. Por isso digo que, após determinada fase, a virgindade tornou-se um tabu apenas feminino".
Uma pesquisa realizada em 1995 mostrou essa mudança. Apenas cerca de 35% das entrevistadas queriam se casar virgens; 75% delas achavam que sexo fazia parte do namoro; e só 20% dos meninos consideravam importante a virgindade das garotas. Em outro estudo recém-divulgado, e também realizado por Albertina, a maioria das meninas entrevistadas (69%) diz não ter tido relações sexuais no primeiro relacionamento amoroso - quando namoraram ou "ficaram" com alguém. Sendo 15 anos a média da iniciação sexual entre elas.
Eles x Elas
Apesar da liberdade, as meninas, principalmente, não resolvem essa questão tão rápido quanto os garotos. De acordo com os dados do Estudo da Vida Sexual do Brasileiro, coordenado pela psiquiatra Carmita Abdo, nas últimas quatro gerações a iniciação sexual caiu cinco anos para as mulheres e um ano e meio para os homens (menos para eles, porque sempre foram mais "adiantados" que elas).
Para se ter uma ideia, uma mulher com mais de 60 anos hoje perdeu a virgindade por volta dos 22. Garotas com idade entre 18 e 25 transaram pela primeira vez, em média, aos 17 anos. Enquanto eles perderam a virgindade entre 14 e 15 anos. "O jovem que é virgem não quer destoar do grupo, por isso tem dificuldade em assumir", lembra Carmita. "Ao ser visto como diferente, pode sofrer pressão, portanto prefere omitir a informação".
Na opinião da psiquiatra fundadora do ProSex - Projeto Sexualidade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, embora a rotatividade de parceiros entre os adolescentes seja alta, eles não estão preparados para o sexo responsável - opinião endossada também pela ginecologista Albertina. Falta maturidade para negociar o uso do preservativo e, assim, evitar doenças sexualmente transmissíveis e a gravidez precoce. Pais preferem que seus filhos adiem a primeira relação, principalmente para protegê-los desses problemas, e não mais por uma questão moral.
As famílias de Caio Trizelli e do amigo Ricardo Vieira, ambos de 16 anos, vêem com bons olhos a virgindade dos filhos. "Meu pai diz que o importante é que seja legal (a primeira relação)", conta Ricardo. "Os amigos incentivam e, às vezes, fazem alguma piadinha, mas não ligo", fala Caio, um nadador de mão-cheia. "Já tive várias oportunidades, mas quero que minha primeira vez seja com quem eu goste de verdade", acrescenta.
Ao contrário do que geralmente ocorre na primeira vez, eles não querem que o sexo seja rápido, cheio de apreensão por medo de que alguém surja de repente - nessa correria, muitos acabam não usando preservativo. Os garotos desejam planejar o encontro romântico e garantir, assim, sexo seguro, com camisinha. Atitude rara entre os meninos.
Segundo pesquisa mundial realizada pela Durex Network (fabricante de preservativos), as mulheres brasileiras planejam a primeira relação sexual bem mais do que os homens: 53% contra 26%.
"Essa é uma demonstração de que as mulheres conversam mais com familiares, amigos e com o parceiro sobre a primeira relação", constata o coordenador da pesquisa aqui no Brasil, Miguel Barbosa Fontes. "Os homens encaram isso como uma questão de oportunidade".
Miguel comemora um dos pontos cruciais que envolvem a perda da virgindade: o sexo seguro. O país é o sétimo colocado no uso de preservativos durante a primeira relação sexual - o que é considerado uma boa colocação. Perde para a Polônia, Grécia, Espanha, Japão, México e Itália. "Quem usa camisinha na primeira vez está mais propenso a continuar se protegendo nas seguintes", observa.
Esse estudo, intitulado "Primeira Relação Sexual: uma Oportunidade para Toda a Vida", demonstra que os brasileiros estão entre os que perdem a virgindade mais cedo. Diferentemente do que apontam outros índices nacionais, a idade da primeira relação sexual acontece, em média, aos 17,4 anos. Entre os 26 mil entrevistados em 26 países, o Brasil só ficou atrás da Áustria (17,3 anos).
Frio na barriga
Por mais liberal que a moçada esteja, a primeira vez sempre é repleta de expectativas. Naiade Motta, de 16 anos, deu um pé no traseiro do namorado quando percebeu que ele estava mais empenhado em tirar a virgindade dela do que em manter um relacionamento. "Quando sabia que minha mãe não estava em casa, fazia questão de me acompanhar até lá, depois pedia para ir ao banheiro só para subir comigo. Até que cansei e não quis mais saber".
Namorado e amigas podem precipitar a iniciação sexual e Naiade sabe disso. Basta andar com uma turma na qual todos já perderam a virgindade para sentir-se pressionada. Só que a garota não se dobra. Acha que ainda é cedo. Ela não se sente segura para se proteger, negociando com firmeza o uso do preservativo.
“Tenho três colegas grávidas e não quero que isso aconteça comigo, muito menos quero correr risco com DSTs”, fala. "Um filho é tudo na vida, precisa de dedicação e não vou abdicar dos meus sonhos para cuidar de criança. Se eu for uma adulta sem esperança, vou criar uma criança sem esperança também".
Naiade não quer casar virgem, mas sua amiga Graciela Del Carmen, de 15 anos, sim. É uma escolha rara hoje em dia, mesmo quando é motivada por razões religiosas. "Sou evangélica, essa foi minha educação. Não curto esse negócio de ficar com um e outro. O importante para mim é ter compromisso e planejar o futuro com alguém. Tanto meu namorado como eu queremos nos casar virgens. Sei que nossa primeira vez será especial e linda. É muito bom saber que estarei com alguém que foi fiel a mim por tanto tempo, e vice-versa".
QUE DIZER?
Não é nosso propósito julgar as consciências do(a)s jovens citados na reportagem, mas havemos de nos referir unicamente ao comportamento proposto. Sejam ponderados os seguintes pontos:
1. Hedonismo materialista
Há quem faça do prazer material corpóreo o referencial de sua conduta; parecem ignorar outros tipos de felicidade como são os que se prendem ao espírito (assim o prazer do saber, o da coerência de vida, o da palavra honrada... para não falar do deleite que a fé religiosa proporciona aos que a professam. 


Os prazeres meramente corpóreos são passageiros e vazios; têm dolorosas sequelas (drogas, crimes, gravidez precoce... em muitos casos). 

Vale a pena recordar aqui a parábola de Lc 16, 19-31: um ricaço tinha tudo o que desejava (boa mesa, bons trajes, bom alojamento) e fechou-se nesses bens a tal ponto que ignorava a existência do pobre Lázaro deitado à sua porta; o ricaço saciou-se com os bens materiais, de modo tal que, após a morte, nada mais tinha a receber: "Filho, lembra-te de que recebeste teus bens em tua vida", diz-lhe o pai Abraão (Lc 16, 25). O ricaço morreu sem fome corporal e sem fome de outra vida; que podia ele esperar no além?
Este raciocínio valerá para os jovens que ainda tenham um pouco de fé recebida de sua mãe ou sua avó.
É preciso educar os adolescentes para a perspectiva dos valores espirituais, que não passam, mas permanecem para sempre.

Merece atenção também o caso do filho pródigo, que na parábola de Lc 15, 11-32, se deixa empolgar pela volúpia da vida na cidade, mas logo se vê frustrado, porque a fome sobreveio, os amigos desapareceram e ele foi tornar-se guardador de porcos, cuja comida ele invejava; em tempo de fome a tendência é mais valorizar um porco do que um homem. Eis o ponto de extrema degradação a que o prazer desregrado pode levar alguém.
Os bens materiais são pequenos demais para saciar a fome e a sede inatas de todo ser humano feito para o Absoluto ou o Infinito.
2. Subserviência
Os prazeres da carne descontrolados levam a uma certa escravidão do homem frente aos seus instintos; é dominado por um impulso que lhe será difícil desarraigar.
"Não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo... e que portanto não pertence a vós mesmos. Alguém pagou alto preço pelo vosso resgate; glorificai portanto a Deus em vosso corpo" (1Cor 6, 19s).
3. Sexo seguro
Já se tem dito repetidamente que não há "sexo seguro". O preservativo é falho em porcentagem diminuta ou porque poroso ou porque mal colocado ou é deslocado... Quem propaga o preservativo, propaga simultaneamente o risco da AIDS. O melhor meio de evitar as doenças sexualmente transmissíveis é a abstinência periódica e a fidelidade a um(a) único(a) parceiro(a). Ver PR 501/2004, pp. 141ss; 409/1996, pp. 257ss.
4. A pressão do grupo
Mais uma vez se percebe nos relatos atrás reproduzidos a poderosa influência do grupo sobre os seus membros; o chamado "respeito humano" se impõe e domina. Daí a importância da educação para a liberdade; é preciso que cada um(a) tenha a coragem de professar em público o que ele(a) pensa, caso se torne conveniente fazê-lo. 


A personalidade bem construída não se dobra às injunções de qualquer categoria. Ora esta coerência está em baixa nos nossos dias.

5. A Virgindade
A virgindade é a fina flor que a jovem possa oferecer a Deus e à sociedade. É o testemunho vivo de que os bens terrestres são pequenos demais para a criatura feita para o infinito. É a troca de bens humanos por bens divinos. É a procura mais intensa do Criador em lugar das criaturas. Já São Paulo a recomendava como vida una e indivisa, na qual o amor se concentra em Deus para refluir mais copiosamente sobre as criaturas. Verdade é que estas palavras pouco dizem a quem não tem fé, mas tiveram valor para certos personagens da história, que, embora não tenham tido fé, aspiraram a um nobre e elevado ideal.
A virgindade (cf. 1 Cor 7, 25-30) é a resposta mais espontânea e eloquente que o cristão possa dar à Boa-Nova: "Chegou o Reino de Deus!".
É para desejar que a juventude de hoje possa compreender estas verdades e encontrar os verdadeiros prazeres, aqueles que não frustram nem passam, mas são o antegozo daquilo que o olho jamais viu, o ouvido jamais ouviu, o coração humano jamais percebeu,... mas que Deus preparou para aqueles que O amam (cf. 1Cor2, 9).