domingo, 12 de julho de 2015

D. Estêvão sobre a virgindade

D. Estêvão Bettencourt analisa reportagem sobre a virgindade e expõe a perspectiva católica sobre o assunto.
O jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, em sua edição de 16/09/07, publicou um caderno feminino sobre virgindade e casamento. De modo especial destaca-se a reportagem das pp. 10, 11 e 12, que tem por título "Sexo sob controle". A seguir, será transcrita essa reportagem, à qual se seguirão alguns comentários.
OS VALORES SEXUAIS MUDARAM TANTO QUE, HOJE, SER VIRGEM VIROU MOTIVO DE VERGONHA PARA A MAIORIA
Ciça Vallerio
Virgindade parece até um delito nos dias atuais. Com algumas exceções, os virgens entrevistados para esta reportagem pediram para não serem identificados, muito menos fotografados. Falar do tema parecia confissão de um crime. E, quanto mais avançada a idade, maior a preocupação com o anonimato. Três amigas universitárias, todas de 20 anos, optaram por pseudônimos e não quiseram divulgar sequer o curso que fazem - para não dar pistas. "Fico com vergonha", diz Carolina. "Confessar para minhas amigas, tudo bem, mas o problema são os meninos".
As outras amigas também se explicam. "Somos consideradas bonitas e acho que não divulgar isso (que são virgens) é uma questão de segurança", diz Amanda. "Os colegas de faculdade podem querer fazer apostas para ver quem tira a nossa virgindade, dopar a gente em alguma festa, por isso o melhor é a discrição". Rafaela completa: "Não transamos ainda porque queremos que seja especial, não com qualquer um. Não temos pressa alguma".
Se para elas foi difícil falar do assunto, imagine para uma mulher de 30 anos, virgem. A auxiliar administrativa, Cláudia (pseudônimo), confessa que esse tema tornou-se um peso em sua vida. "Adiei tanto que, agora, ficou ainda mais difícil de resolver", conta. "Mais do que nunca, estou empenhada em conhecer alguém legal para transar, mas avalio demais os pretendentes, fantasio um cara perfeito, e acabo desistindo por algum motivo".
Além de idealizar um príncipe que nunca veio, Cláudia conta que priorizou os estudos, por isso o tempo foi passando e nada. Hoje se arrepende. No bate-papo com as amigas, quando o assunto é sexo, ela se sente deslocada. Diz que a falta dessa experiência é um vazio em sua vida. Pior, esconde sua virgindade.
Outros tempos
O tema virgindade passou por uma mudança radical. Há décadas, ser virgem era prerrogativa para conseguir um bom casamento, ser respeitada na sociedade e na família. A regra valia para as mulheres, uma vez que o sexo precoce sempre foi incentivado entre os homens. Mas, agora, quem não transa - seja homem seja mulher - é malvisto. A médica ginecologista Albertina Duarte Takiuti, coordenadora do Programa Estadual do Adolescente da Secretaria Estadual da Saúde, trabalha com jovens de 1971 e acompanhou de perto essa virada.
Na época em que começou a atender, chegavam ao ambulatório do Hospital das Clínicas meninas desesperadas, que lhe confessavam aos sussurros: "tenho uma coisa grave para falar para a senhora: perdi minha virgindade, e minha vida acabou!" Outras chegavam chorando, logo após a lua-de-mel, dizendo que não haviam sangrado e, portanto, os maridos achariam que já não eram virgens antes. Quando a médica explicava que, dependendo do tipo de hímen, não há sangramento na primeira relação, a paciente ficava tão grata que a beijava. Outras pediam para que a médica falasse isso diretamente para os parceiros.
Agora a história é outra. Durante o atendimento, adolescentes virgens chegam envergonhados por não terem tido ainda uma relação sexual. Albertina escuta dos pacientes: "você não vai acreditar, mas sou virgem" ou "você vai rir de mim, me sinto um ET, não tenho nem coragem de falar: nunca transei" ou "tenho 25 anos, não tem nada de errado comigo, mas sou virgem." E por aí vai.
Segundo Albertina - uma das referências nacionais quando o assunto é sexualidade na adolescência -, a revolução sexual que surgiu nos anos 60 atingiu algumas poucas pessoas. Para grande parte da população, a valorização da virgindade ainda estava muito presente nos anos 70 e 80. Mas foi se dissipando na década seguinte.
"O hímen funcionava como moeda de troca, e as meninas se sentiam extremamente desvalorizadas quando deixavam de ser virgens", lembra a ginecologista. "Passadas algumas décadas, os meninos não davam tanta importância a isso, as meninas é que valorizavam muito. Por isso digo que, após determinada fase, a virgindade tornou-se um tabu apenas feminino".
Uma pesquisa realizada em 1995 mostrou essa mudança. Apenas cerca de 35% das entrevistadas queriam se casar virgens; 75% delas achavam que sexo fazia parte do namoro; e só 20% dos meninos consideravam importante a virgindade das garotas. Em outro estudo recém-divulgado, e também realizado por Albertina, a maioria das meninas entrevistadas (69%) diz não ter tido relações sexuais no primeiro relacionamento amoroso - quando namoraram ou "ficaram" com alguém. Sendo 15 anos a média da iniciação sexual entre elas.
Eles x Elas
Apesar da liberdade, as meninas, principalmente, não resolvem essa questão tão rápido quanto os garotos. De acordo com os dados do Estudo da Vida Sexual do Brasileiro, coordenado pela psiquiatra Carmita Abdo, nas últimas quatro gerações a iniciação sexual caiu cinco anos para as mulheres e um ano e meio para os homens (menos para eles, porque sempre foram mais "adiantados" que elas).
Para se ter uma ideia, uma mulher com mais de 60 anos hoje perdeu a virgindade por volta dos 22. Garotas com idade entre 18 e 25 transaram pela primeira vez, em média, aos 17 anos. Enquanto eles perderam a virgindade entre 14 e 15 anos. "O jovem que é virgem não quer destoar do grupo, por isso tem dificuldade em assumir", lembra Carmita. "Ao ser visto como diferente, pode sofrer pressão, portanto prefere omitir a informação".
Na opinião da psiquiatra fundadora do ProSex - Projeto Sexualidade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, embora a rotatividade de parceiros entre os adolescentes seja alta, eles não estão preparados para o sexo responsável - opinião endossada também pela ginecologista Albertina. Falta maturidade para negociar o uso do preservativo e, assim, evitar doenças sexualmente transmissíveis e a gravidez precoce. Pais preferem que seus filhos adiem a primeira relação, principalmente para protegê-los desses problemas, e não mais por uma questão moral.
As famílias de Caio Trizelli e do amigo Ricardo Vieira, ambos de 16 anos, vêem com bons olhos a virgindade dos filhos. "Meu pai diz que o importante é que seja legal (a primeira relação)", conta Ricardo. "Os amigos incentivam e, às vezes, fazem alguma piadinha, mas não ligo", fala Caio, um nadador de mão-cheia. "Já tive várias oportunidades, mas quero que minha primeira vez seja com quem eu goste de verdade", acrescenta.
Ao contrário do que geralmente ocorre na primeira vez, eles não querem que o sexo seja rápido, cheio de apreensão por medo de que alguém surja de repente - nessa correria, muitos acabam não usando preservativo. Os garotos desejam planejar o encontro romântico e garantir, assim, sexo seguro, com camisinha. Atitude rara entre os meninos.
Segundo pesquisa mundial realizada pela Durex Network (fabricante de preservativos), as mulheres brasileiras planejam a primeira relação sexual bem mais do que os homens: 53% contra 26%.
"Essa é uma demonstração de que as mulheres conversam mais com familiares, amigos e com o parceiro sobre a primeira relação", constata o coordenador da pesquisa aqui no Brasil, Miguel Barbosa Fontes. "Os homens encaram isso como uma questão de oportunidade".
Miguel comemora um dos pontos cruciais que envolvem a perda da virgindade: o sexo seguro. O país é o sétimo colocado no uso de preservativos durante a primeira relação sexual - o que é considerado uma boa colocação. Perde para a Polônia, Grécia, Espanha, Japão, México e Itália. "Quem usa camisinha na primeira vez está mais propenso a continuar se protegendo nas seguintes", observa.
Esse estudo, intitulado "Primeira Relação Sexual: uma Oportunidade para Toda a Vida", demonstra que os brasileiros estão entre os que perdem a virgindade mais cedo. Diferentemente do que apontam outros índices nacionais, a idade da primeira relação sexual acontece, em média, aos 17,4 anos. Entre os 26 mil entrevistados em 26 países, o Brasil só ficou atrás da Áustria (17,3 anos).
Frio na barriga
Por mais liberal que a moçada esteja, a primeira vez sempre é repleta de expectativas. Naiade Motta, de 16 anos, deu um pé no traseiro do namorado quando percebeu que ele estava mais empenhado em tirar a virgindade dela do que em manter um relacionamento. "Quando sabia que minha mãe não estava em casa, fazia questão de me acompanhar até lá, depois pedia para ir ao banheiro só para subir comigo. Até que cansei e não quis mais saber".
Namorado e amigas podem precipitar a iniciação sexual e Naiade sabe disso. Basta andar com uma turma na qual todos já perderam a virgindade para sentir-se pressionada. Só que a garota não se dobra. Acha que ainda é cedo. Ela não se sente segura para se proteger, negociando com firmeza o uso do preservativo.
“Tenho três colegas grávidas e não quero que isso aconteça comigo, muito menos quero correr risco com DSTs”, fala. "Um filho é tudo na vida, precisa de dedicação e não vou abdicar dos meus sonhos para cuidar de criança. Se eu for uma adulta sem esperança, vou criar uma criança sem esperança também".
Naiade não quer casar virgem, mas sua amiga Graciela Del Carmen, de 15 anos, sim. É uma escolha rara hoje em dia, mesmo quando é motivada por razões religiosas. "Sou evangélica, essa foi minha educação. Não curto esse negócio de ficar com um e outro. O importante para mim é ter compromisso e planejar o futuro com alguém. Tanto meu namorado como eu queremos nos casar virgens. Sei que nossa primeira vez será especial e linda. É muito bom saber que estarei com alguém que foi fiel a mim por tanto tempo, e vice-versa".
QUE DIZER?
Não é nosso propósito julgar as consciências do(a)s jovens citados na reportagem, mas havemos de nos referir unicamente ao comportamento proposto. Sejam ponderados os seguintes pontos:
1. Hedonismo materialista
Há quem faça do prazer material corpóreo o referencial de sua conduta; parecem ignorar outros tipos de felicidade como são os que se prendem ao espírito (assim o prazer do saber, o da coerência de vida, o da palavra honrada... para não falar do deleite que a fé religiosa proporciona aos que a professam. 


Os prazeres meramente corpóreos são passageiros e vazios; têm dolorosas sequelas (drogas, crimes, gravidez precoce... em muitos casos). 

Vale a pena recordar aqui a parábola de Lc 16, 19-31: um ricaço tinha tudo o que desejava (boa mesa, bons trajes, bom alojamento) e fechou-se nesses bens a tal ponto que ignorava a existência do pobre Lázaro deitado à sua porta; o ricaço saciou-se com os bens materiais, de modo tal que, após a morte, nada mais tinha a receber: "Filho, lembra-te de que recebeste teus bens em tua vida", diz-lhe o pai Abraão (Lc 16, 25). O ricaço morreu sem fome corporal e sem fome de outra vida; que podia ele esperar no além?
Este raciocínio valerá para os jovens que ainda tenham um pouco de fé recebida de sua mãe ou sua avó.
É preciso educar os adolescentes para a perspectiva dos valores espirituais, que não passam, mas permanecem para sempre.

Merece atenção também o caso do filho pródigo, que na parábola de Lc 15, 11-32, se deixa empolgar pela volúpia da vida na cidade, mas logo se vê frustrado, porque a fome sobreveio, os amigos desapareceram e ele foi tornar-se guardador de porcos, cuja comida ele invejava; em tempo de fome a tendência é mais valorizar um porco do que um homem. Eis o ponto de extrema degradação a que o prazer desregrado pode levar alguém.
Os bens materiais são pequenos demais para saciar a fome e a sede inatas de todo ser humano feito para o Absoluto ou o Infinito.
2. Subserviência
Os prazeres da carne descontrolados levam a uma certa escravidão do homem frente aos seus instintos; é dominado por um impulso que lhe será difícil desarraigar.
"Não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo... e que portanto não pertence a vós mesmos. Alguém pagou alto preço pelo vosso resgate; glorificai portanto a Deus em vosso corpo" (1Cor 6, 19s).
3. Sexo seguro
Já se tem dito repetidamente que não há "sexo seguro". O preservativo é falho em porcentagem diminuta ou porque poroso ou porque mal colocado ou é deslocado... Quem propaga o preservativo, propaga simultaneamente o risco da AIDS. O melhor meio de evitar as doenças sexualmente transmissíveis é a abstinência periódica e a fidelidade a um(a) único(a) parceiro(a). Ver PR 501/2004, pp. 141ss; 409/1996, pp. 257ss.
4. A pressão do grupo
Mais uma vez se percebe nos relatos atrás reproduzidos a poderosa influência do grupo sobre os seus membros; o chamado "respeito humano" se impõe e domina. Daí a importância da educação para a liberdade; é preciso que cada um(a) tenha a coragem de professar em público o que ele(a) pensa, caso se torne conveniente fazê-lo. 


A personalidade bem construída não se dobra às injunções de qualquer categoria. Ora esta coerência está em baixa nos nossos dias.

5. A Virgindade
A virgindade é a fina flor que a jovem possa oferecer a Deus e à sociedade. É o testemunho vivo de que os bens terrestres são pequenos demais para a criatura feita para o infinito. É a troca de bens humanos por bens divinos. É a procura mais intensa do Criador em lugar das criaturas. Já São Paulo a recomendava como vida una e indivisa, na qual o amor se concentra em Deus para refluir mais copiosamente sobre as criaturas. Verdade é que estas palavras pouco dizem a quem não tem fé, mas tiveram valor para certos personagens da história, que, embora não tenham tido fé, aspiraram a um nobre e elevado ideal.
A virgindade (cf. 1 Cor 7, 25-30) é a resposta mais espontânea e eloquente que o cristão possa dar à Boa-Nova: "Chegou o Reino de Deus!".
É para desejar que a juventude de hoje possa compreender estas verdades e encontrar os verdadeiros prazeres, aqueles que não frustram nem passam, mas são o antegozo daquilo que o olho jamais viu, o ouvido jamais ouviu, o coração humano jamais percebeu,... mas que Deus preparou para aqueles que O amam (cf. 1Cor2, 9).

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