sexta-feira, 3 de julho de 2015

Seis níveis do conhecimento em um relacionamento

Um namoro de qualidade se inicia com o autoconhecimento, um caminho em seis etapas, a ser trilhado todos os dias, por meio da autopercepção, da relação com os outros e com Deus.

O que eu sei de mim

Para me relacionar melhor com minha namorada (meu namorado) devo reconhecer vários aspectos de minha vida: a influência de minha história, cultura, educação, minhas virtudes, meus limites, medos, potencialidades, carências...

 
Tudo isso, foi moldando minha maneira de interagir com as pessoas e com o mundo, me tornou quem sou e, se não sou capaz de me aceitar, de reconhecer minhas demandas e de me relacionar de forma saudável comigo mesmo, tenderei a buscar no outro satisfação para minhas carências, estabelecerei relações de dependência afetiva e, no fim, poderei viver a insatisfação e a frustração pessoal. Se não conseguir aceitar a minha própria identidade, minha namorada (meu namorado) pode significar uma fuga de mim mesmo.

O que eu sei de mim, posso comunicar ao outro.

Terei relacionamentos com maior qualidade, à medida que, me aceito e sou capaz de comunicar quem sou de forma mais livre e verdadeira. É a minha “área aberta”, onde apresento à minha namorada (meu namorado) aquilo que eu descobri de mim e gostaria que ela(e) também conhecesse: minha história, meus pontos fracos e fortes, experiências, sentimentos etc. seja porque eu confio nela(e) ou porque me sinto seguro para falar abertamente sobre minhas qualidade e defeitos.

O que sei de mim, posso esconder do outro

Ao me revelar a quem eu amo significa que eu confio parte importante de mim, isso me torna também vulnerável: corro o risco de não ser aceito, de ser mal compreendido, de me sentir envergonhado, constrangido, talvez, perder o seu amor...

Às vezes, posso temer lhe dizer quem sou porque

“Se eu lhe dizer quem sou, você pode não gostar,
e isso é tudo o que tenho”
(John Powell)

Então, geralmente, tendo a diminuir a minha “área aberta” para dar espaço maior à minha “área secreta”.

Ao esconder dos outros quem sou, posso não fazer por mal, mas porque busco segurança, proteção, aceitação. Pode ser por decisão consciente, de não querer revelar algo ao meu respeito, ou porque o tempo de convivência ou as oportunidades de exposições com as demais pessoas envolvidas no relacionamento ainda não foram suficientes para que os elementos ocultos fossem revelados.

Aí desenvolvo “máscaras”, “personagens” e “papéis” para ser mais aceitos pelas pessoas com quem convivo ou para me adaptar à realidade ameaçadora: ora posso ser “o palhaço” que faz todos riem, enquanto choro por dentro; “o coitadinho”, querendo receber carinho e atenção; “o mal-humorado”, que deseja respeito; “o romântico” que deseja seduzir e conquistar; “o prestativo”, que faz tudo pelos outros, mesmo me prejudicando etc.

Contudo, ao me porta dessa forma, pago um preço: corro o risco de ser mal interpretado, meu namoro pode ficar na superficialidade, onde um não conhece o outro em profundidade, posso acabar me casando com uma completa desconhecida e, lá na frente, quando as “máscaras” caírem e o “eu verdadeiro” aparecer, surgirão as decepções.

Por isso, é importante buscar reduzir as minhas “áreas ocultas” e ampliar as “áreas abertas” no namoro – tempo de conhecimento mútuo. Relacionamentos amorosos devem ser baseados na verdade e não em segredos, a chave para isso é o diálogo sincero.

O que o outro sabe de mim.

Verdade que muito sobre mim, eu mesmo desconheço. Parte disso, pode me ser revelado pela interação com o outro: quem eu amo, pode refletir minhas virtudes e defeitos como espelho. Ela(e) conhece aspectos meus que nem sequer havia me dado conta.

Por isso, quando me deparo diante de afirmações que um outro faz ao meu respeito, posso ficar surpresos, subestimo, nego, justifico, racionalizo etc.

Por outro lado, ficar atendo aquilo que os demais expressam ao meu respeito, pode me render importantes descobertas sobre quem sou: ao lado de quem amo, posso ser muito mais que eu mesmo!
Todavia, deve-se ter prudência, pois, muitas vezes também, a paixão tem a tendência a ampliar as virtudes e diminuir defeitos, a projetar minhas qualidades e limites na pessoa amada e, com o passar do tempo, as lindas cores com as quais pintava minha amada tendem a desbotarem, pois, geralmente, enxergo o mundo com as lentes de minha própria história e sob a ótica dos meus preconceitos.

O que ignoramos sobre mim

Existe também aquilo que eu desconheço em mim e os outros também ignoram, aquilo que por alguma razão não se manifestou ainda: as potencialidades do inconsciente, as lembranças, coisas que foram excluídas, reprimidas, censuradas etc. Aí encontram-se as razões de muitos de meus comportamentos, neuroses, traumas, formas de ser, pensar, sentir, agir...

Essa “área desconhecida”, para a grande maioria das pessoas, é a maior e a mais difícil de ser reduzida, visto que seu conteúdo é acessível apenas através de técnicas especiais como a psicoterapia, autorreflexão, meditação, oração. Ela é responsável pela “surpresa” do ser humano: frequentemente, não sei do que sou capaz até passar por determinada situação; ela explica porque, mesmo depois de tempos de convívio, fulano foi capaz de fazer algo que eu não imaginava que ele seria capaz; isso ajuda também a dar esperanças para nosso crescimento pessoal...

De certa forma, o namoro se dá entre dois desconhecidos, mas isso não pode ser desculpa. Buscar o autoconhecimento é uma exigência natural de todo ser humano. Santa Teresa D’Ávila se surpreendia com o fato de tanta gente desconhecer o seu “Castelo Interior”, ou seja, da riqueza que guardo dentro de mim.

O que Deus sabe de mim.

São Tomás de Aquino observa que

“Quando vou ao encontro de mim mesmo, encontro dentro de mim um Outro que não sou eu e que, no entanto, é o fundamento do meu existir”

Esse Totalmente Outro, é Deus, o qual, independente, de como me vejo e as demais pessoas me percebem, conhecesse a profundezas de minha alma e me diz que sou sua imagem e semelhança, que sou Templo do Espírito Santo, que carrego um tesouro em vasos de argila, que possuo a dignidade de filho...
 
Ao me dedicar a um relacionamento amoroso, jamais posso perder essa perspectiva: preciso ver minha namorada com os mesmos olhos com os quais Deus me olha. 

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