D. Estêvão Bettencourt analisa a prática de alguns pais que permitem que seus filhos tenham relações com suas namoradas em casa, alegando "segurança" e aborda o sentido da sexualidade cristã.
A revista FAMÍLIA CRISTÃ de março 2003, pp. 42s, publicou uma reportagem que tem por subtítulo: "Em nome da segurança, muitas famílias flexibilizam seus padrões morais e permitem que os filhos mantenham relações sexuais em casa". A reportagem começa com a seguinte observação:
"A cena pode estar ocorrendo agora: um jovem de 16 anos recebe em casa, no seu quarto, a namorada de 15 anos e os dois mantêm relações sexuais. Com autorização dos pais da garota e dos do jovem. Este comportamento foi percebido em uma pesquisa, realizada há dois anos pelo Instituto de Medicina Social da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), Instituto de Saúde Coletiva da UFB (Universidade Federal da Bahia) e Núcleo de Antropologia do Corpo e Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que ouviu 120 jovens de Salvador, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Segundo o levantamento, muitas famílias preferem que as relações sexuais de seus filhos ocorram em casa, optando pelo "mal menor". Sob o mesmo teto, os jovens estão longe da violência urbana e os pais têm oportunidade de dialogar com o "casal" sobre questões ligadas à sexualidade, como uso de preservativos, prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e até ajudar a evitar uma gravidez precoce" (p. 42).
A aprovação deste procedimento é formulada de diversos modos no decorrer do artigo, levantando-se o testemunho do Prof. Dorivaldo Pires de Camargo, docente de Ética no ITESP ou Instituto de Teologia de São Paulo:
"A ética renovada, iniciada a partir do Concílio Vaticano II, vê homens e mulheres como seres humanos integrais e compreende suas naturezas carentes e necessidades vitais. Não estou, com isso, justificando nada e, menos ainda, deixando de justificar. Mas o fato de um homem transar em casa não deve ser alvo de um julgamento precipitado ou de uma condenação, mas algo que propõe um diálogo mais aberto entre pais e filhos, sem hipocrisia, tabus ou aceitação de normas fixas que sirvam para todos" (p. 42).
A propósito comenta Mariângela Mantovani:
"O que assusta não é tanto o jovem transar ou não em casa, mas a idade cada vez mais tenra com que eles iniciam suas vidas sexuais. Embora com 12 ou 13 anos, uma garota possa estar com o corpo pronto para ter relações, nem sempre a cabeça está" (p. 43).
QUE DIZER?
Antes do mais, convém averiguar que sentido possam ter as relações sexuais pré-matrimoniais.
1. Relações pré-matrimoniais: avaliação
Amar é querer bem um ao outro;
implica doação ou entrega,
para que o bem do ser amado possa ser atingido.
Ora o amor que surge entre jovens solteiros é algo que vai crescendo: atravessa as fases do namoro e do noivado para chegar ao casamento. Só no matrimônio é que ocorre a união plena e comprometida entre os cônjuges; somente então existe o ambiente adequado para as relações sexuais, que supõem um lar e amor estável entre esposo e esposa para que possam educar seus filhos.
Sinal evidente de que as relações pré-matrimoniais estão fora de propósito é o fato de que são geralmente acompanhadas por anticoncepcionais e outros artifícios; induzem os interessados a mutilar a natureza, que por si é unitiva e fecunda. Se não se tomam tais cautelas, dá-se o perigo de engravidamento indesejado, que não raro termina com abortamento.
Com outras palavras:
A relação sexual é algo de tão íntimo e profundo que ela
não pode ser a primeira demonstração do amor
nascente; é, antes, a expressão suprema da maturação
e da consolidação desse amor. Unir-se sexualmente
significa doar-se por completo e, por conseguinte,
comprometer-se totalmente.
não pode ser a primeira demonstração do amor
nascente; é, antes, a expressão suprema da maturação
e da consolidação desse amor. Unir-se sexualmente
significa doar-se por completo e, por conseguinte,
comprometer-se totalmente.
Quem separa a sexualidade do amor comprometido, procura apenas o prazer egoísta anexo às relações sexuais; esse prazer não é a finalidade da sexualidade, mas é algo que o Criador acrescentou à vida sexual para facilitar o desempenho da sua função unitiva e fecunda ([1]).
As relações entre sexualidade e amor podem ser assim expostas:
a) Prostituição: é a relação entre "anônimos", que muitas vezes não têm amor mútuo;
b) Amor livre: é a relação entre pessoas que se conhecem e amam mutuamente, mas sem compromisso ou sem assumirem definitivamente o seu consórcio;
c) Noivado: é amor, já, de certo modo, comprometido, mas ainda com reservas, podendo cada qual afastar-se;
d) Casamento: amor comprometido e duradouro, clima apto para a doação sexual, ao passo que nos três casos anteriores esta é despropositada.
2. As razões em prol das relações pré-matrimoniais
Costuma-se aduzir as três seguintes:
1) "É preciso testar o amor (a vida sexual) antes do casamento para evitar os fracassos posteriores".
Respondemos:
O teste sexual anterior ao casamento
não prova que os dois parceiros poderão
viver felizes a sua vida conjugal.
Esta implica convivência diária e partilha de responsabilidades, lutas, alegrias... - o que exige uma verdadeira conversão do coração, cujo alcance é muito mais amplo do que o do relacionamento sexual.
2) "O contrato matrimonial vem a ser mera formalidade. Não é o papel que faz o amor!"
Em resposta, devemos reconhecer que, de fato, o papel não é o essencial no casamento, mas é o amor. Todavia o papel lembra
A doação plena; é como que um espelho e um sinal que argui e que pode incomodar.
Ademais o casamento não é função que interesse a dois indivíduos apenas; não se pode viver o casamento em foro meramente privado e individualista; sem inserção corajosa e oficial dentro da comunidade, o amor corre o risco de ser mero egoísmo e manipulação do parceiro; é o nós da sociedade que lhe dá apoio para se consolidar. Por isto tanto os nubentes quanto a sociedade devem estar interessados na regulamentação ética e jurídica da vida conjugal. A sociedade compartilha, de certo modo, a vida dos seus casais, alegrando-se e entristecendo-se com eles.
3) "Hoje em dia os jovens têm que esperar anos para adquirir posição profissional definida e a estabilidade financeira necessária ao casamento. A longa espera gera impaciência, principalmente numa sociedade erotizante como a nossa".
Em resposta, observamos que um mal não se cura com outro mal. Aliás,
A espera também tem seus aspectos positivos;
fortalece a vontade, permite o aprimoramento da formação
humana e moral dos noivos...
Ademais quem não sabe dizer Não a si mesmo antes do casamento, dificilmente o dirá depois.
O problema dos impulsos sexuais depende muito das convicções de cada pessoa: quem julga que o imperativo do sexo é inexorável e deve ser atendido imediatamente, sentirá atrativos sexuais veementes; ao contrário, quem tem a convicção de que a vida sexual é a expressão consumada (e não inicial) do amor, não dará tanta importância aos apelos eróticos e saberá viver a continência com mais facilidade. Já se tem dito que o cérebro, com a sua fantasia e a sua memória, é a principal glândula sexual do organismo humano; e com razão... A continência dependerá, em grande parte, das convicções pessoais dos interessados; se alguém não acredita nela, não conseguirá praticá-la.
3. E o mal menor?
A Teologia Moral ensina que, quando alguém é obrigado a escolher entre alternativas moralmente más, deve escolher o mal menor. Ora, raciocinam alguns escritores, os casais estão diante de um dilema: ou deixam os filhos "transar" fora do casamento, correndo os riscos da violência e da promiscuidade, ou trazem para casa os namorados a fim de não enfrentarem tais riscos. Esta segunda alternativa representa o mal menor e, segundo parece, deve ser escolhida.
Respondemos que o princípio é válido, mas não se aplica ao caso em foco. Na verdade, este comporta uma terceira opção:
Ministrar aos adolescentes e jovens uma escala de valores que
mostre o papel da sexualidade humana no conjunto dos valores
da personalidade, enfatizar que o sexo não é um imperativo
diante do qual não é possível a abstinência,
apresentar as etapas da auto-realização,
a genitalidade vivenciada dentro do matrimônio...
Em suma, será necessário reformular a educação para que leve o educando a escalonar suas aspirações de acordo com o Fim Supremo do homem, que é transcendental.
Seria este o autêntico dever dos pais hoje, em vez de abrirem as portas para que possam os filhos "transar" em casa.
E qual é esse genuíno significado da sexualidade humana?
4. A sexualidade humana
Fisiologicamente considerado, o ser humano parece igualar-se aos animais quanto ao sexo. Todavia a sexualidade serve precisamente para diferenciar os homens e os Irracionais. Com efeito; nestes o sexo é instintivo, correspondendo a mera necessidade da natureza. No ser humano, ao contrário,
A sexualidade integra uma personalidade que tem seu ideal ou
que é animada por uma alma espiritual, capaz de transcender os
bens materiais e visíveis. Isto dá um sentido novo à sexualidade,
fazendo-a participar da nobreza da vida espiritual.
A sexualidade no homem está a serviço da plena realização do ideal de cada um. Donde se segue que ela não é plenamente humana se se limita ao ato sexual, como nos animais. Ela tende a efetuar uma comunhão de pessoas no casamento e à educação da prole, que traz a imagem e a semelhança de Deus.
Estas afirmações nada têm que ver com o pansexualismo de Sigmund Freud. Segundo este, a sexualidade comanda consciente ou inconscientemente a vida psíquica. Ao contrário, dizemos que é o espírito que comanda a sexualidade ou que o amor de benevolência, concebido pelo espírito, dirige a sexualidade. Vemos, pois, que
Quem recalca sistematicamente a sexualidade, arrisca-se a sofrer incursões sorrateiras e bestiais da mesma: "O homem não é nem anjo nem besta; desgraçadamente, porém, quem quer bancar o anjo, torna-se besta" (Blaise Pascal).
A sexualidade, no ser humano, não é valor absoluto e
autônomo, mas também não deve ser recalcada e pisoteada,
mas, sim, dirigida para construir o ideal da personalidade.
Essa orientação harmoniosa da sexualidade é o que se chama a virtude da castidade; vale tanto para a vida dos solteiros como para a dos casados.
No celibato e na vida una, não há recalque da sexualidade, mas transferência da sua direção para o Criador e, indistintamente, para todos aqueles que Deus ama.
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