O namoro é uma experiência única e vivamente enriquecedora. Com ele muitos se empolgam e não poucos o procuram com ansiedade e o esperam com inúmeras expectativas. Ele ajuda o ser a colocar para fora o que tem de melhor, também o ensinando a bem acolher o que de bom o outro pode oferecer. Enfim, tal relacionamento se constitui como experiência singular e rica de ensinamento. Contudo, ele pode também se tornar traumático e confuso se não for experienciado com o devido tempero e maturidade.
Maturidade para ganhar e perder, para dar e receber… Quem entra em um namoro querendo somente ganhar já começou a perder. Esse relacionamento não poderá, de fato, acontecer se desde o seu início nele não existir um sentido de entrega e doação em favor do bem do outro. Sem o respeito, que nos faz compreender que o outro não é um “poço encantado” onde satisfazemos todos os nossos prazeres egoístas, o namoro não poderá se solidificar, ficando assim impedido de lançar as bases para um relacionamento estável – feliz – e duradouro.
O namoro é, com exatidão, um tempo de conhecimento e interação mútua. E é necessário que seja assim. É tempo de crises, de deparar-se com as diferenças que constituem “um outro” que não sou eu, e que por isso não pode ser por mim manipulado (alienado). Quem não emprega tempo e energias neste processo de conhecer, deixando-se conhecer, acabará colocando o futuro do relacionamento na rota do fracasso e de uma ampla “irrealização”.
Namoro sem crise, sem conhecimento e confronto de diferenças tende a se tornar – ainda que disfarçadamente – um esconderijo de múltiplas formas de superficialidade e descompromisso. Quem não faz a experiência de realmente conhecer a quem namora no seu melhor e pior – encantando-se e decepcionando-se – correrá o sério risco de não suportar a dureza manifestada pelo real, depois do casamento já concretizado.
Quem, no tempo de namoro, conhece somente o “corpo” (do outro) e não a “pessoa” por inteiro poderá, em qualquer alvorecer, deparar-se com a infeliz descoberta de que se casou com um (a) desconhecido.
Namoro é o momento de entrar em crise e dela juntos sair. É tempo de brigar e reconciliar-se, é tempo de não representar. Quem assume esse relacionamento acreditando “ser de vidro” – não resistente ao impacto do cotidiano – não entendeu o que significa amar e ser amado e quais são as exigências que brotam deste ofício.
Confronto de diferenças não é sinônimo de desamor, mas de autenticidade. Estacionar nas diferenças, permitindo que estas ditem definitivamente as regras da relação é, sim, o sinal do desamor em estado de constante vitória. Este encontro – que em momentos “desencontra” – oferecido pelo namoro é um momento único e determinante para o futuro do casal e da família. Por isso, precisa ser bem vivido e digerido com respeito e autodoação que desafiem a atual lógica utilitarista, que cada vez mais fabrica centenas de uniões fragmentadas e inexistentes (apenas aparentes).
Com as bases solidificadas em uma madura compreensão do que seja o amor – protaganismo de identidades e não ensaio de representações… – o namoro poderá crescer e se tornar, de fato, o fundamento para o futuro de uma família verdadeiramente feliz e centrada no essencial da vida.
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