Foi o famoso psicólogo Gustave Jung que, em 1921, trouxe uma
importante contribuição para o entendimento dos “tipos humanos”, ou seja, a
forma como as pessoas se relacionam com o mundo, seus interesses, referências,
habilidades e disposições, como elas (re)agem diante de uma determinada
situação.
Em seu entender, existem duas atitudes básicas: focar sua
atenção no mundo externo (extroversão) ou no mundo interno (introversão).
Introvertido é aquele que tem interesse no mundo interior
(ideias, pensamentos, sentimentos, abstrações, especulação filosófica). É
reservado, pode parecer distante, distraído, interage pouco com as pessoas,
prefere a solidão. É comedido, pensa muito antes de falar e agir, costuma
guardar suas emoções e sente dificuldade em se expressar.
Já o extrovertido é o oposto: explosivo, impulsivo, fala e
age sem pensar, gosta de interagir com as pessoas, é comunicativo, espontâneo,
gosta de coisas práticas, é sociável, acessível, geralmente, descarrega as
emoções na medida em que surgem.
Verdade que nenhum ser humano é exclusivamente extrovertido
nem introvertido, ambas atitudes existem dentro de nós e variam de acordo com o
momento como forma de adaptação. Entretanto, na maior parte do tempo, adotamos
uma dessas atitudes, o que a torna parte de nossa personalidade.
Imaginemos uma pessoa que seja totalmente introvertida. Esse
indivíduo seria egoísta, indiferente para com as necessidades dos outros, solitário,
evitaria diálogos, guardaria suas raivas e frustrações e para explodi-las de
maneira desproporcional em um momento fora de contexto.
Pensemos, agora, no caso de alguém se volta demais para o
mundo externo. Ele correria o risco de ser superficial e hedonista; poderia
apresentar dificuldade em criar vínculos duradouros e de fidelidade, pois
tenderá a buscar sempre novos estímulos.
Suponhamos que haja um casal de introvertidos. Para os
outros, esse relacionamento parece frio e distante, cada qual no seu canto,
regado a discussões “filosóficas” e longos silêncios. Provável que um respeite
o espaço e a privacidade do outro, porém, em alguns momentos, um pode se sentir
ignorado pelo outro. Esse tipo de casal tende a se isolar dos demais, o perigo
é lidar sozinho com os conflitos emocionais.
Imaginemos como seria o namoro de um casal de extrovertidos
como descrevemos acima. O relacionamento pode parecer intenso, repleto de passatempos
criativos, aventura, sempre estão buscando fugir do tédio e novos prazeres, o
que corre o risco de os vínculos se desfazerem facilmente caso deixe de ser
interessante.
Já um namoro entre uma pessoa introvertida e outra
extrovertida pode resultar naquele casal em que um fica em casa e o outro comparece
aos eventos sociais. O introvertido pode se sentir emocionalmente exausto ao
ser obrigado a comparecer a esses compromissos, enquanto o extrovertido pode
achar entediante ficar em casa.
O extrovertido pode se tornar a “voz” do casal, reforçando
ainda mais a dificuldade do introvertido de interação. Este pode acusar o outro
de superficial, ao passo, que o extrovertido o julga “lento”. Caso não seja bem
administradas essas diferenças podem resultar em distanciamento cada vez maior
do casal.
Introversão e extroversão são atitudes que surgiram pela
combinação complexa de elementos genéticos e elementos aprendidos através dos
pais, da escola, da cultura, da experiência de cada um. Isso significa que de
alguma forma, podemos aperfeiçoar nossas características de introvertidos ou de
extrovertidos.
Para um outro psicólogo, Abraham Maslow, é necessário o
equilíbrio entre interioridade e exterioridade a fim de que a pessoa se sinta
inteira. Isso também se aplica ao namoro.
Interioridade implica que a pessoa se explorou e se
experienciou. Ela está ciente da vitalidade de seus sentidos, emoções, mente e
vontade; não teme nem desconhece as atividades de seu corpo e de suas emoções.
Interioridade implica autoaceitação, sentir-se a vontade com
seu corpo, com suas emoções, tanto ternas quanto hostis, com seus impulsos,
pensamentos e desejos. Não apenas estar à vontade com o que já experimentou,
mas também aberto à novas sensações. Aceitar que sua condição interna possa
mudar constantemente, reconhecer seu potencial, no entanto, ser realista com
suas limitações; não ficar sonhando com alguém que quer ser, nem passar o resto
da vida se convencendo de que é essa pessoa. Quem se volta de maneira adequada
ao seu interior se escuta e se ama como realmente é. Confia em suas habilidades
e recursos por que ver nisso dom de Deus e parte de quem ela é.
Por outro lado, uma atitude de exterioridade saudável
implica que a pessoa está aberta não só ao seu interior, mas também ao ambiente
que a cerca. A pessoa inteira estabelece com o outro (namorado, noivo esposa)
um contato profundo e significativo. Não só escuta a si, como também não é indiferente
ao sofrimento do outro, torna-se sensível, empático, solidário.
A exterioridade atinge seu ápice na habilidade de dar amor
livremente. A pessoa inteira pode sair de si, pode se comprometer com uma causa
em direção ao outro e a Deus e quando isso acontece, os nossos relacionamentos
se enriquecem.
Namoro é tempo de crescimento mútuo, o extrovertido pode
aprender com seu par introvertido acerca do mundo interior, enquanto este pode
aprender daquele, habilidades interpessoais, olhar para o outro com
misericórdia. Mas, para isso, é necessário respeitar o tempo de cada um. Quem
entende o namoro dessa forma, compreende que o outro não é qualquer coisa, mas
um dom de Deus e aos dons do Senhor precisamos ser gratos e cultivá-los.
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