terça-feira, 30 de junho de 2015

Palavras do Papa João Paulo II aos jovens casais - parte III

Durante vários anos, o papa João Paulo II iniciou uma série de catequeses sobre a Teologia do Corpo, nelas, havia algumas exortações, conselhos e bênçãos voltadas para os jovens casais. Aqui se encontram reunidos trechos de março e abril de 1980.

5 de Março de 1980Também a vós,  jovens Casais,  presentes nesta Audiência no início da vossa vida matrimonial,  desejo exprimir os meus bons votos abençoadores e a minha afetuosa saudação. Dai sempre ao vosso amor uma unidade granítica e uma fé inabalável. Sabei  conservar sempre aquele sentido de alegria e de felicidade, que hoje enche o vosso espírito. Tende sempre o sentido religioso da família, olhai para o amor infinito com que Cristo ama a Igreja e deixai-vos modelar por esse exemplo no vosso amor recíproco, e Ele não vos iludirá,  mas  far-vos-á  crescer  todos  os  dias  no  alegre  testemunho  de  uma  vida  matrimonial  vivida autenticamente (...)


 
12 de Março de 1980(...) Exorto-vos a serdes reconhecidos ao Senhor pelo dom da família que acabais de formar e à qual o Concílio Vaticano II chama "igreja doméstica" (L. G., c. 11). Sede orgulhosos desta família e guardai-a com todo o cuidado.
 
Na família, podereis e devereis encontrar
o ambiente propício para a vossa santificação.
 
A fim de que esta missão cristã se realize, peço ao Senhor e à Virgem Maria que vos abençoem e protejam.
 
19 de Março de 1979
(...) O Senhor  abençoe  o  vosso  amor,  sustenha  o vosso  generoso  propósito  de  dar  testemunho  de vida matrimonial  cristãmente,  exemplar,  e  esteja  sempre  junto  de  vós  como  Seu  auxílio,  no  caminho  que escolhestes para percorrer juntos até à morte. São José, Esposo afetuoso, Pai exemplar e Homem justo, vos proteja sempre e vos conceda a graça de viverdes sempre segundo a justiça, isto é; virtuosamente, a fim de serdes queridos a Deus, serenos com vós mesmos e bons para com o próximo. Com estes votos, abençoo-vos de coração.
 
26 de Março de 1980Caríssimos jovens Casais!
Viestes à Audiência do Papa nesta circunstância para vós tão bela e encantadora do matrimônio; sede benvindos e aceitai a minha saudação e os meus mais cordiais votos de felicidade. Ao iniciardes agora a vossa nova vida, levai para o mundo o vosso amor e a vossa fidelidade com alegria e coragem, como um ramo de oliveira e uma lâmpada acesa em sinal de paz e de fraternidade. De todo o coração invoco sobre vós a bênção do Senhor.
 
2 de Abril de 1980

A contemplação do Crucifixo, erguido entre o céu e a terra na Sexta-Feira Santa, tem qualquer coisa a dizer também a vós, jovens Casais, a quem um profundo amor uniu na vida e na morte.
 
O esposo, segundo o Apóstolo Paulo (Ef 5, 25), representa Cristo; a esposa, a Igreja. E como Cristo morreu para tornar pura e imaculada a sua esposa, também o esposo deve estar disposto até mesmo à morte, por aquela a quem ama.  E a esposa,  como a Igreja,  deve dar tudo,  afeto e assistência,  numa atitude perene de amor pelo esposo.
Que Deus vo-lo conceda.
 
16 de Abril de 1980
E a vós, jovens Casais, alegres pela vossa total  e definitiva doação mútua realizada no sacramento do matrimônio,  dirijo os  votos  férvidos  de todo o Povo de Deus: 
mantende por  toda a vida o vigor  e o entusiasmo destes dias,  recordando-vos sempre que,  na terra,  sois o sinal  concreto e visível  daquele misterioso e imenso amor que une Cristo à Sua Esposa, a Igreja (cfr. Ef 5, 22-23). O Senhor vos dará a Sua graça, a Sua força e a Sua alegria, a fim de que possais construir a vossa família "cristã" no temor de Deus, no amor recíproco e na abertura com os outros.
A todos a minha Bênção Apostólica.

30 de Abril de 1980
É sempre apreciada também a presença do grupo de
jovens Casais. Convido-vos igualmente a olhar para Maria na sua vida de Nazaré e a imitá-la à luz dos ensinamentos do Concílio Vaticano II:  "...Criados à imagem de Deus vivo sede unidos por um afeto igual e mútuo, pelo mesmo modo de sentir, por comum santidade"  (cfr.  Gaudium et  spes,  52).  Maria,  na pobre casa de Nazaré,  deu-se plenamente a Jesus, juntamente com José. É esta a vossa vocação de esposos cristãos: santificar-vos, amando-vos mutuamente no amor de Cristo.
Para que possais realizar  esta missão cristã,  peço ao Senhor  e à Virgem Maria que vos amparem nas vossas responsabilidades e vos protejam nas provas e nos perigos.  Concedo-vos de coração a Bênção Apostólica, que, de boa vontade faço extensiva a todos os que vos são queridos.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

4 coisas que nunca devem existir no namoro

Claro que existem muitas outras atitudes que não deveriam existir no namoro (ou em qualquer outro relacionamento amoroso), mas selecionamos quatro muito comuns que devem sempre ser evitadas.
 

 
1. Ciúme excessivo
O ciúme é uma reação despertada por uma ameaça, real ou imaginária, de perda do parceiro ou de seu afeto ou atenção. Trata-se de uma complexa mistura de sentimentos (dor, raiva, tristeza, inveja, medo, culpa, insegurança, vergonha), que, embora, seja naturalmente humano, pode se tornar patológico.
O ciúme normal decorre de uma ameaça real de perda, de traição, enquanto no ciúme patológico a ameaça de perda é fictícia, imaginária, uma distorção das percepções da realidade, o que leva o ciumento às preocupações constantes e a questionar as saídas do parceiro, inspecionar roupas, carteira, celular, perfil nas redes sociais, perseguir o parceiro, sempre demonstrar desconfiança etc.
Há na cultura popular quem associa o ciúme à amor, entretanto, quando excessivo, o ciúme atrapalha qualquer relacionamento. Na verdade, ele pode estar relacionado à carência afetiva, baixo autoestima, insegurança. Em casos, graves é necessária ajuda profissional.
Lembre-se das palavras de São Paulo: “o amor... não é invejoso... nada faz de inconveniente... tudo crê” (1Cor 13,4s.7) e de São João: “ no amor não existe medo; pelo contrário, o amor perfeito lança fora o medo, porque o medo supõe castigo. Por conseguinte, quem sente medo ainda não está realizado no amor” (1Jo 4,18).
2. Dependência afetiva exagerada
Co-dependência ou a dependência emocional é uma condição psicológica ou um relacionamento no qual uma pessoa é controlada ou manipulada por outra.
Em geral, um dos dois tem dificuldade em tomar decisões, precisa de conselhos excessivos dos outros, precisa que assumam responsabilidade pela maior parte das principais áreas de sua vida; a pessoa tem dificuldade em manifestar sua opinião, quer agradar em excesso, com receio de perder apoio ou aprovação; pode apresenta dificuldade em iniciar projetos ou fazer coisas por conta própria; falta confiança em si ou em suas capacidades; faz de tudo para obter carinho e apoio, inclusive coisas desagradáveis e/ou humilhantes.
A pessoa emocionalmente dependente se sente desconfortável ou desamparo quando sozinho devido a temores exagerados de ser incapaz de cuidar de si mesmo, busca com urgência outro relacionamento como fonte de cuidado e amparo logo após término de um relacionamento íntimo e tem preocupações irreais com medos de ser abandonado à própria sorte.
Uma relação desse tipo pode revelar também baixa autoestima, pouca autoconfiança, pouco autocontrole, desvalorização pessoal, falta de autoconhecimento. Muitas vezes, é preciso acompanhamento terapêutico.
O papa Francisco ensina que o amor é feito uma casa, deve ser construído juntos! Um deve ajudar o outro a crescer, a ser melhor e não o contrário.
3. Violência
Violência no namoro (ou em qualquer tipo de relação) nunca deve ser permitida. O amor deve ser baseado no respeito mútuo. Entretanto, é muito comum vermos algum tipo de violência entre os namorados. Podem ser de forma pontual ou contínua, cometida por um ou por ambos, com o intuito de controlar, dominar e ter mais poder do que a outra pessoa envolvida na relação.
São tipos de violências: a violência física (p.ex., empurrões, jogar objetos, bofetadas, pontapés, murros etc.); a violência sexual (p.ex., forçar carícias ou atos sexuais sem consentimento); a violência verbal (gritos, humilhações, intimidações, ameaças); a violência psicológica (controle excessivo, manipulação, tortura, bulling, ciberbulling e.o.); a violência social (humilhação pública perante amigos, familiares, nas mídias sociais, proibição de convívio com outras pessoas dentre outros).
Nesses casos, é importante a intervenção da família e, dependendo da gravidade, até das autoridades públicas.
4. Antecipação
Cada vez mais cedo, os jovens iniciam a sua vida sexual mais cedo. Antecipar as etapas do relacionamento pode gerar consequências graves: a sensação de se sentir usado, abandonado, pode ser gatilho para as atitudes citadas nos tópicos anteriores, aumenta o risco de DST’s, de gravidez na adolescência; a sensação de desamparo pode levar à transtornos de ansiedade, depressão etc.
A relação pode correr o risco de centralizar-se apenas na genitalidade, enquanto o casal perde a oportunidade de crescer juntos no autoconhecimento, no diálogo, no amadurecimento mútuo.
 
Por isso, o sexo na doutrina católica, deve ser reservado aos casados, não porque a Igreja o considera algo diabólico ou negativo, mas porque ela o considera parte do "núcleo íntimo da pessoa humana", o qual deve ser "parte integral do amor no qual homem e mulher se empenham totalmente um para o outro até a morte" (CIC, 2361). 
 
Diz Coélet: "debaixo do céu há momento para tudo, e tempo certo para cada coisa", inclusive, "tempo para amar" (Ecl 3,1.8).

domingo, 28 de junho de 2015

Reflexão sobre Gn 2,18

“Javé Deus disse: ‘Não é bom que o homem esteja sozinho. Vou fazer para ele uma auxiliar que lhe seja semelhante’”
(Gn 2,18, Bíblia Edição Pastoral).

É incrível como esse pequeno versículo é tão rico. Gostaria de convidar você, amigo Leitor e amiga Leitora, para meditarmos juntos.

Iniciemos com uma reflexão acerca do nome de Deus. Ao longo do primeiro capítulo, no texto original hebraico, Deus é denominado Elohim (אֶלֺֹחִים) por 33 vezes (=Deus Supremo, Juiz); aqui, porém, muda-se para YHVH Elohim – o mesmo nome com o qual Deus se revela a Moisés (Ex 3,14). Podemos dizer que temos a passagem de Elohim para Javé, do Justo Juiz para o “Aquele que é” “rico em amor e fidelidade” (Ex 34,6).

 
E mais: o papa Bento XVI, na época ainda cardeal, em seu livro Introdução ao Cristianismo, ao comentar acerca do nome de Deus, dizia que Javé tem a conotação do Deus que está sempre junto aos seus filhos e que o acompanha onde quer que ele vá. No caso de Gn 2,18, esse Deus, que conhece as profundezas das necessidades humanas, vê Adão e diz: “não é bom que o homem esteja sozinho”.

“Javé Deus disse”... expressão que, até aqui, foi repetida 11 vezes (essa é a 12ª) ao longo das páginas iniciais da Escritura e toda vez que a expressão hebraica apareceu algo importante aconteceu: foi criado a luz, o firmamento, as águas, a relva, os luzeiros etc. Então, algo importante aqui também será criado! - a importância da mulher!

No original hebraico, o verbo ’amar (אׇמַר), significa mais do que, simplesmente, “dizer”, implica também é continuidade e conclusão, neste caso, do ato criador – compare com Gn 2,16s e perceba que a sequência aparece após uma escolha fundamental, entre a vida e a morte (note o quanto a relação homem e mulher é colocada como possibilidade de vida e morte).

Mas, sobretudo, podemos perceber o movimento da vontade divina neste verbo hebraico: Deus que “deseja fazer” uma auxiliar para o homem (é assim que a TEB traduz Gn 2,18).
 
O que Deus diz? “Não é bom que o homem esteja só”!
 
É a primeira vez que a palavra “bom” aparece na Bíblia em forma negativa (perceba, porém, que aqui não se diz que é “ruim”). Em hebraico, tov (טוֺב) designa tanto o bem estar físico e psicológico (satisfação, bem-estar, prazer, felicidade, prosperidade), quanto o bem moral (bondade, benevolência, honrado, digno). Tov refere-se a tudo que é valioso, belo, formoso, precioso...

Quando se traduziu esse trecho da Escritura para o grego, utilizou-se a palavra καλον, kalon, belo, bom, oportuno, conveniente, melhor, ressaltando, principalmente, o fato de “não ser adequado”, justo, nem decente, a solidão original do homem. O texto exprime a condição degradante da solidão humana: isto não condiz com a dignidade que Deus quis para nós!

A solidão está diante do ser humano o tempo todo, como algo lançado a sua face, ameaçando, degradando-o; onde quer que vá, o homem está sujeito a essa sensação de abandono. Por isso, Deus lhe oferta gratuitamente alguém que lhe seja como que proteção à angústia de se viver só, um ser que lhe console nas horas difíceis da vida e possa mitigar o terrível desamparo...
 
É a partir desse olhar misericordioso que Deus se prontifica e sua vontade se transforma em ato: “vou fazer para ele uma auxiliar”. Na tradução da Bíblia Ave-Maria, exalta-se essa ação como uma graça, uma dádiva, um presente de Deus: “vou dar-lhe”.

A palavra hebraica ezer (עֵזֶר) pode ser traduzida como auxiliar, ajuda, ajudadora, auxiliadora, adjutora. Ela carrega em si noções de apoio, assistência, socorro, proteção, consolo.

Longe de ser uma degradação da mulher, Deus eleva a mulher ao status de graça para o homem – lembre-se que na Sagrada Escritura, Deus é chamado de Auxílio, Ajuda (Sl 29,11). Alguém que lhe seja “semelhante”. Alguém que lhe “corresponda” (de acordo com a tradução da CNBB) – bonito o setindo desta palavra, significa “está em harmonia, em concordância”, “responder junto”, que lhe “se comunique” (= para tornar-se um?).

O papa João Paulo II, comentando essa passagem em uma homilía às famílias dizia que “no Livro do Génesis, o autor sagrado delineia a existência fundamental sobre a qual se baseia a união esponsal de um homem e de uma mulher, e com ela a vida da família que dela tem origem. Trata-se duma existência de comunhão. O ser humano não é feito para a solidão, traz em si uma vocação relacional, radicada na sua própria natureza espiritual. Em virtude desta vocação, ele cresce na medida em que se relaciona com o próximo, encontrando-se plenamente "no dom sincero de si mesmo" (Gaudium et spes, 24)” (15/10/2000).

E na carta às mulheres (n.7), em 1995, o papa afirma: “na criação da mulher está inscrito, desde o início, o princípio do auxílio: auxílio — note-se — não unilateral, mas recíproco. A mulher é o complemento do homem, como o homem é o complemento da mulher: mulher e homem são entre si complementares. A feminilidade realiza o « humano » tanto como a masculinidade, mas com uma modulação distinta e complementar”.

“Quando o Génesis fala de « auxiliar », não se refere só ao âmbito do agir, mas também do ser. Feminilidade e masculinidade são entre si complementares, não só do ponto de vista físico e psíquico, mas também ontológico. Só mediante a duplicidade do « masculino » e do « feminino », é que o « humano » se realiza plenamente”.

Na Carta apostólica "Mulieris dignitatem" (n.30), o papa João Paulo II reafirma que “O paradigma bíblico da mulher, "colocada" pelo Criador ao lado do homem como "auxiliar semelhante a ele" (Gn 2, 18), revela também o verdadeiro sentido da sua vocação. A sua força moral e espiritual brota da consciência de que "Deus lhe confia de modo especial o homem, o ser humano".

sábado, 27 de junho de 2015

O papa Paulo VI falando aos casais - parte II

Selecionamos um fragmento do discurso do Papa Paulo VI aos casais, realizado no dia 4 de Maio de 1970 ressaltando a importância do matrimônio.

(...)
 
Obra do Espírito Santo (cfr. Tit 3, 5), a regeneração baptismal faz de nós criaturas novas (cfr. Gál 6, 15), para que « assim caminhemos nós, também, muna vida nova » (Rom 6, 4). Nesta grande empresa de renovação de todas as coisas em Cristo, o matrimónio, também ele purificado e renovado, torna-se uma realidade nova, um sacramento da Nova Aliança. E, eis que no limiar do Novo Testamento, como na entrada do Antigo, se forma um casal. Mas, ao passo que aquele, formado por Adão e Eva, foi a fonte do mal que se espalhou sobre o mundo, o de José e Maria é a plenitude de onde a santidade se expande sobre toda a terra. O Salvador começou a Sua obra salvífica com esta união virginal e santa, onde se manifesta a sua vontade todo-poderosa de purificar e santificar a família, este santuário do amor e este berço da vida.

 
 
Desde então tudo se transformou. Dois cristãos querem casar-se; São Paulo adverte-os: «...não vos pertenceis a vós mesmos » (1 Cor 6, 19). Membros de Cristo, um e outro « no Senhor », a sua união realiza-se também « no Senhor », como a da Igreja. E é por esta razão que ela é « um grande mistério » (Ef 5, 32), um sinal que não só representa o mistério da união de Cristo com a Igreja, mas também o encerra e irradia por meio da graça do Espírito Santo, que é a sua alma vivificadora.
 
Porque é exatamente o amor, próprio de Deus, que ele nos comunica, para que nós o amemos e para que também o amemos com este amor divino: « assim como Eu vos amei, vós também vos deveis amar uns aos outros » (Jo 13, 34).
 
Até as manifestações da sua ternura são,
para os esposos cristãos, penetradas deste amor que eles vão haurir no coração de Deus.
 
E, se a nascente humana corresse o perigo de secar, a sua nascente divina é tão inesgotável como as profundezas insondáveis da ternura de Deus. Por outras palavras, a caridade conjugal, forte e rica, tende para essa comunhão íntima. Realidade interior e espiritual, ela transforma a comunidade de vida dos esposos naquilo «que bem pode chamar-se Igreja doméstica» (Lumen Gentium, n. 11), uma verdadeira «célula da Igreja», como disse o Nosso saudoso predecessor João XXIII, à vossa peregrinação de 3 de Maio de 1959 (Discorsi, messaggi, colloqui dei Santo Padre Giovanni XXIII, I, Tip. Pol. Vat., p. 298), célula de base, célula germinal, sem dúvida a mais pequena, mas também a mais fundamental do organismo eclesial.
 
Este é o mistério em que está radicado o amor conjugal e que ilumina todas as suas manifestações. Mistério da Encarnação, que exalta as nossas virtudes humanas, penetrando-as internamente. Longe de as menosprezar, o amor cristão condu-las, verdadeiramente, à sua plenitude, com paciência, generosidade, força e doçura (...)
 
Porque, se a fascinação da carne é perigosa, a tentação do angelismo não o é menos, e uma realidade desprezada não demora muito a reivindicar o seu lugar. Também, conscientes de guardar os seus tesouros em vasos de argila (cfr. 2 Cor 4, 7), os esposos cristãos procurem esforçar-se, com humilde fervor, por traduzir, na sua vida conjugal, as recomendações do Apóstolo São Paulo: «os vossos corpos são membros de Cristo..., o vosso corpo é templo do Espírito Santo...; glorificai pois a Deus no vosso corpo » (1 Cor 6, 15. 19. 20).
 
«Casados no Senhor», os esposos não podem unir-se, daí por diante, senão no nome de Cristo, a quem eles pertencem e por quem eles devem trabalhar como seus membros ativos. Eles não podem, portanto, dispor do seu corpo, especialmente porque ele é princípio de geração, senão no espírito e para a obra de Cristo, porque eles são membros de Cristo.
 
«Colaboradores livres e responsáveis do Criador » (Humanae Vitae, n. 1), os esposos cristãos veem a sua fecundidade carnal adquirir assim uma nobreza nova. O impulso, que os leva a unirem-se, é portador de vida e permite que deem filhos a Deus. (...)
 
Dilectos filhos e filhas, vós estais bem convencidos de que só vivendo a graça do sacramento do Matrimónio caminhais com « um amor incansável e generoso » (Ibid n. 41) para esta santidade a que todos nós somos chamados pela graça (cfr., Mt 5, 48; 1 Tes 4, 3; Ef 1, 4), e não por uma exigência arbitrária, mas pelo amor de um Pai que quer o pleno desenvolvimento e a felicidade total dos seus filhos.

De resto, para a alcançar, não fostes abandonados a vós mesmos, porque Cristo e o Espírito Santo, « estas duas mãos de Deus », segundo a expressão de Santo Irineu, trabalham por vós sem descanso (cfr. Adversus Haereses IV, 28, 4 em: PG 7, 1.200). Não vos deixeis, portanto, desviar pelas tentações, pelas dificuldades, pelas provações que aparecerem pelo caminho, sem o temor de ir, quando for preciso, contra a corrente do que se diz e pensa num mundo de atitudes paganizadas. São Paulo advertia-nos: «não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente » (Rom 12, 2).

Nunca vos desencorajeis nos momentos de fraqueza: o nosso Deus é um Pai cheio de ternura e de bondade, cheio de solicitude e transbordante de amor pelos seus filhos, que, algumas vezes, encontram dificuldades no seu caminho. E a Igreja é a mãe que vos quer ajudar a viver, toda a vida, este ideal do matrimónio cristão, do qual ela vos lembra, com bondade, todas as exigências.
(...)
 
O caminho dos esposos, como toda a vida humana, tem muitas etapas, comportando fases difíceis e dolorosas — tendes prova disso com o passar dos anos. Mas é preciso dizê-lo em voz alta: a angústia e o medo nunca deveriam anidar-se nas almas de boa-vontade, porque
 
Afinal, não é o Evangelho uma boa-nova
também para os casais, e uma mensagem que,
sendo exigente, não é menos profundamente libertadora?

Ter consciência de que ainda não se conquistou a própria liberdade interior, que se está ainda submetido ao impulso das próprias tendências, descobrir-se como incapaz de respeitar, dum momento para o outro, a lei moral, num domínio tão fundamental, suscita, naturalmente, uma reação de angústia. É, porém, o momento decisivo, em que o cristão, na sua desordem, em vez de se abandonar à revolta estéril e destruidora, acede na humildade à descoberta perturbadora do homem perante Deus, um pecador diante do amor de Cristo Salvador.

A partir desta tomada de consciência radical, todo o progresso da vida moral se torna atraente, os casais encontram-se também «evangelizados» no seu íntimo, os esposos descobrem «com temor e tremor » (Fil 2, 12), mas também com uma alegria admirada, que no seu matrimónio, como na união de Cristo com a Igreja, é o mistério pascal da morte e da ressurreição que se realiza. No seio da grande Igreja, esta pequena Igreja conhece-se então por aquilo que na realidade é: uma comunidade fraca e às vezes pecadora e penitente, mas perdoada, a caminho para a santidade,« na paz de Deus, que sobrepuja todo o entendimento » (Fil 4, 7).

Longe de estar, portanto, ao abrigo de qualquer fraqueza — « quem pensa estar de pé, veja que não caia » (1 Cor 10, 12) e de estar dispensado de um esforço perseverante, às vezes em condições cruéis que só o pensamento de tomar parte na paixão de Cristo pode levar a suportar (cfr. Col 1, 24), os esposos sabem, pelo menos, que as exigências da vida moral conjugal, que a Igreja lhes recorda, não são leis intoleráveis nem impraticáveis, mas um dom de Deus para os ajudar a aceder, por meio e além das suas fraquezas, às riquezas de um amor plenamente humano e cristão.

Desde então, longe de ter o sentimento angustioso de se encontrarem como que fechados num beco sem saída e, segundo os casos, de se entregarem talvez à sensualidade, abandonando todas as práticas sacramentais, de se revoltarem contra a Igreja, considerando-a como inumana, ou de persistirem num esforço impossível, a custo de perderem a harmonia e o equilíbrio, isto é, a sobrevivência do lar, os esposos entregar-se-ão à esperança, na certeza de que todos os recursos da graça da Igreja estão à disposição para os ajudar a encaminharem-se para a perfeição do seu amor.
 
São estas as perspectivas em que vivem os casais cristãos, em todo o mundo:

A boa-nova da salvação em Cristo, progredindo para a santidade no matrimónio e por meio dele, com a luz, a força e a alegria do Salvador.

(...) 

sexta-feira, 26 de junho de 2015

O papa Paulo VI falando aos casais - parte I

Selecionamos um fragmento do discurso do Papa Paulo VI aos casais, realizado no dia 4 de Maio de 1970 ressaltando a importância do matrimônio.
 
(...) Muitas vezes a Igreja pareceu, sem razão, suspeitar do amor humano. Também vos queremos dizer hoje claramente: não, Deus não é inimigo das grandes realidades humanas e a Igreja não desconhece os valores quotidianamente adquiridos por milhões de lares. Pelo contrário, a boa-nova trazida por Cristo Salvador é uma boa-nova para o amor humano, também ele excelente nas suas origens — « Deus, vendo toda a Sua obra, considerou-a muito boa » (Gên 1,31) —, também ele corrompido pelo pecado, também ele remido ao ponto de se tornar, pela graça, meio de santidade.


 
Como todos os batizados, vós fostes, realmente, chamados à santidade, segundo o ensinamento da Igreja, solenemente reafirmado pelo Concílio (cfr. Lumen Gentium, n. 11). Mas deveis dirigir-vos a ela com o vosso modo próprio, na vossa e pela vossa vida de família (Ibid. n. 41). E a Igreja que no-lo ensina:
 
« Os esposos, tornados capazes
pela graça de levar uma vida santa»
(Gaudium et Spes, n. 49 § 2)
 
e de fazer o seu lar «como santuário familiar da Igreja» (Apostolicam Actuositatem, n. 11). Estes ensinamentos, cujo esquecimento é tão trágico para o nosso tempo, são-vos certamente familiares. Gostaríamos de meditar neles juntamente convosco, por alguns instantes, para reforçar ainda em vós, se for necessário, a vontade de viver generosamente a vossa vocação humana e cristã no matrimónio (cfr. Gaudium et Spes, nn. 1, 47-52), e de colaborar com o grande desígnio de amor de Deus no mundo, de se formar um povo « para o louvor da sua glória » (Ef 1, 14).
 
Como a Sagrada Escritura nos ensina, o matrimónio, antes de ser um sacramento, é uma grande realidade terrestre: «Deus criou o homem à Sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher» (Gên 1, 27). É preciso recordar todos os dias esta primeira página da Bíblia, se quisermos compreender o que é, o que deve ser um casal humano, um lar. As análises psicológicas, as pesquisas psicanalíticas, os inquéritos sociológicos e as reflexões filosóficas poderão, sem dúvida, contribuir para dar esclarecimentos sobre a sexualidade e sobre o amor humano, mas cegar-nos-iam se transcurassem este ensinamento fundamental que nos foi dado desde a origem: a dualidade dos sexos foi querida por Deus, para que o homem e a mulher, juntos, fossem imagem de Deus, e, como Ele, nascente de vida: «crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra» (Gên 1, 28).
 
Uma leitura atenta dos Profetas, dos Livros Sapienciais e do Novo Testamento, mostra-nos, de resto, o significado desta realidade fundamental e ensina-nos a não a limitar ao desejo físico e à atividade genital, mas a descobrir nela o carácter complementar dos valores do homem e da mulher, a grandeza e as fraquezas do amor conjugal, a sua fecundidade e a sua abertura ao mistério do desígnio do amor de Deus.
 
Este ensinamento conserva ainda hoje todo o seu valor e imuniza-nos contra as tentações de um erotismo destruidor. Este fenómeno aberrante deveria, pelo menos, pôr-nos em guarda contra o perigo de uma civilização materialista, que pressente, obscuramente, neste domínio misterioso, como que o último refúgio de um valor sagrado.
 
Saberemos nós arrancá-lo ao abuso da sensualidade? Saibamos pelo menos, perante uma expansão cinicamente levada a efeito por algumas indústrias ávidas, aniquilar os seus efeitos nefastos nos jovens. Sem obstáculos nem compressões, trata-se de favorecer uma educação que ajude a criança e o adolescente a tomarem consciência, progressivamente, da força dos impulsos que despertam neles, de os integrar na construção da sua personalidade, de dominar as suas forças ascendentes, para realizarem uma completa maturidade afetiva e também sexual, de se prepararem, assim, para o dom de si, num amor que lhes dará a sua verdadeira dimensão, de maneira exclusiva e definitiva.
 
A união do homem e da mulher difere, na verdade, radicalmente, de todas as outras associações humanas e constitui uma realidade singular, ou seja, a união fundada na doação mútua dos cônjuges: « e os dois serão uma só carne » (Gên 2, 24).
 
Unidade, cuja indissolubilidade irrevogável é o selo colocado sobre a união livre e mútua de duas pessoas dotadas de liberdade que, « portanto, já não são dois, mas uma só carne » (Mt 19, 6): uma só carne, um casal, poder-se-ia quase dizer, um único ser, cuja unidade assumirá uma forma social e jurídica por meio do matrimónio e se manifestará por uma comunhão de vida, cuja expressão fecunda é o dom carnal. Quer dizer que,
 
Com o matrimónio, os esposos exprimem uma vontade de se pertencerem um ao outro para toda a vida, e de contraírem, para este fim, um vínculo objetivo, cujas leis e exigências, muito longe de serem um servilismo, são uma garantia e uma proteção, um verdadeiro amparo, como vós próprios verificais nas vossas experiências quotidianas.
 
Na verdade, a doação não é uma fusão. Cada uma das personalidades permanece distinta e, longe de se dissolver com a doação mútua, afirma-se e aperfeiçoa-se, aumenta com o decorrer da vida conjugal, segundo esta grande lei do amor: dar-se um ao outro para se dar juntamente.
 
O amor é, realmente, o cimento que dá solidez a esta comunidade de vida e o entusiasmo que a arrasta para uma plenitude cada vez mais perfeita. Todo o ser participa dela, nas profundezas do seu mistério pessoal e dos seus componentes afetivos, sensíveis, carnais e também espirituais, até constituir, cada vez melhor, esta imagem de Deus, que o casal tem a missão de encarnar na sucessão dos dias, tecendo-a com as suas alegrias e com as suas preocupações, dado que o amor é, realmente, mais do que o amor.
 
Não há nenhum amor conjugal que não seja, na sua exultação, entusiasmo para o infinito, e que não deseje ser, no seu entusiasmo, total, fiel, exclusivo e fecundo
(cfr. Humanae Vitae, n. 9).
 
É nesta perspectiva que o desejo encontra o seu pleno significado. Meio de expressão e, também, de conhecimento e de comunhão, o ato conjugal mantém e fortifica o amor e a sua fecundidade, leva o casal ao seu pleno desenvolvimento: torna-se, à imagem de Deus, fonte de vida.
 
O cristão tem consciência disto: o amor humano é bom na sua origem e, embora esteja, como tudo o que existe no homem, ferido e deformado pelo pecado, encontra em Cristo a sua salvação e a sua redenção. Aliás, não é esta a lição de vinte séculos de história cristã ? Quantos casais encontraram, na sua vida conjugal, o caminho da santidade, nesta comunidade de vida, que é a única fundada num sacramento!
(...)
Continua

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Papa Francisco fala sobre o "caminho" conjugal

A primeira Leitura fala-nos do caminho do povo no deserto. Pensemos naquele povo em marcha, guiado por Moisés! Era formado sobretudo por famílias: pais, mães, filhos, avós; homens e mulheres de todas as idades, muitas crianças, com idosos que sentiam dificuldade em caminhar... Este povo lembra a Igreja em caminho no deserto do mundo atual; lembra o Povo de Deus que é composto, na sua maioria, por famílias.
 
 
 
Isto faz pensar nas famílias, nas nossas famílias, em caminho pelas estradas da vida, na história de cada dia... É incalculável a força, a carga de humanidade presente numa família: a ajuda mútua, o acompanhamento educativo, as relações que crescem com o crescimento das pessoas, a partilha das alegrias e das dificuldades... As famílias constituem o primeiro lugar onde nos formamos como pessoas e, ao mesmo tempo, são os «tijolos» para a construção da sociedade.
 
Voltemos à narração bíblica... A certa altura, o povo israelita «não suportou o caminho» (Nm 21, 4): estão cansados, falta a água e comem apenas o «maná», um alimento prodigioso, dado por Deus, mas que, naquele momento de crise, lhes parece demasiado pouco. Então lamentam-se e protestam contra Deus e contra Moisés: «Porque nos fizestes sair do Egipto?» (Nm 21, 5). Sentem a tentação de voltar para trás, de abandonar o caminho.
 
Isto faz-nos pensar nos casais que «não suportam o caminho», o caminho da vida conjugal e familiar. A fadiga do caminho torna-se um cansaço interior; perdem o gosto do Matrimónio, deixam de ir buscar água à fonte do Sacramento. A vida diária torna-se pesada e, muitas vezes, «nauseante».
 
Naquele momento de extravio – diz a Bíblia – chegam as serpentes venenosas que mordem as pessoas; e muitas morrem. Este facto provoca o arrependimento do povo, que pede perdão a Moisés, suplicando-lhe que reze ao Senhor para afastar as serpentes. Moisés pede ao Senhor, que lhe dá o remédio: uma serpente de bronze, pendurada num poste. Quem olhar para ela, fica curado do veneno mortal das serpentes.
 
Que significa este símbolo? Deus não elimina as serpentes, mas oferece um «antídoto»: através daquela serpente de bronze, feita por Moisés, Deus transmite a sua força que cura – uma foça que cura –, ou seja, a sua misericórdia, mais forte que o veneno do tentador.
 
Como ouvimos no Evangelho, Jesus identificou-Se com este símbolo: na verdade, por amor, o Pai «entregou» Jesus, o seu Filho Unigénito, aos homens para que tenham a vida (cf. Jo 3, 13-17). E este amor imenso do Pai impele o Filho, Jesus, a fazer-Se homem, a fazer-Se servo, a morrer por nós e a morrer numa cruz; por isso, o Pai ressuscitou-O e deu-Lhe o domínio sobre todo o universo. Assim se exprime o hino da Carta de São Paulo aos Filipenses (2, 6-11). Quem se entrega a Jesus crucificado recebe a misericórdia de Deus, que cura do veneno mortal do pecado.
 
O remédio que Deus oferece ao povo vale também e de modo particular para os casais que «não suportam o caminho» e acabam mordidos pelas tentações do desânimo, da infidelidade, do retrocesso, do abandono... Também a eles Deus Pai entrega o seu Filho Jesus, não para os condenar, mas para os salvar: se se entregarem a Jesus, Ele cura-os com o amor misericordioso que jorra da sua Cruz, com a força duma graça que regenera e põe de novo a caminhar pela estrada da vida conjugal e familiar.
 
O amor de Jesus, que abençoou e consagrou a união dos esposos, é capaz de manter o seu amor e de o renovar quando humanamente se perde, rompe, esgota.
 
O amor de Cristo pode restituir
aos esposos a alegria de caminharem juntos.
 
Pois o matrimónio é isto mesmo: o caminho conjunto de um homem e de uma mulher, no qual o homem tem o dever de ajudar a esposa a ser mais mulher, e a mulher tem o dever de ajudar o marido a ser mais homem.
 
Este é o dever que tendes entre vós:
 
«Amo-te e por isso faço-te mais mulher»
«Amo-te e por isso faço-te mais homem».
 
É a reciprocidade das diferenças. Não é um caminho suave, sem conflitos, não! Não seria humano. É uma viagem laboriosa, por vezes difícil, chegando mesmo a ser conflituosa, mas isto é a vida! E, no meio desta teologia que a Palavra de Deus nos oferece sobre o povo em caminho, mas também sobre as famílias em caminho, sobre os esposos em caminho, um pequeno conselho.
 
É normal que os esposos litiguem: é normal! Acontece sempre. Mas dou-vos um conselho: nunca deixeis terminar o dia sem fazer a paz. Nunca. É suficiente um pequeno gesto. E assim continua-se a caminhar.
 
O matrimónio é símbolo da vida,
da vida real, não é uma «ficção»!
 
É sacramento do amor de Cristo e da Igreja, um amor que tem na Cruz a sua confirmação e garantia. Desejo, a todos vós, um caminho lindo, um caminho fecundo. Que o amor cresça! Desejo-vos a felicidade. Existirão as cruzes… Existirão, mas o Senhor sempre estará lá para nos ajudar a seguir em frente. Que o Senhor vos abençoe!
 
Papa Francisco

quarta-feira, 24 de junho de 2015

8 Segredos dos relacionamentos bem-sucedidos

Quem não quer ter um relacionamento amoroso bem-sucedido, duradouro e feliz? Apresentamos 8 dicas eficazes para ajudar em seu namoro, noivado e casamento.

Faz algum tempo que eu e minha esposa trabalhamos com casais na igreja e, como bom católico, gosto muito dos conselhos que o Papa Francisco dá aos noivos: sempre se utilize das palavrinhas mágicas, “posso, com licença?”, “por favor”, “obrigado”, “desculpa”.
 
Existe, porém, algo mais que se pode fazer. David Niven, em seu livro “Os 100 segredos dos bons relacionamentos”, reuniu uma série de estudos científicos sobre os casais felizes, os quais resumimos aqui em 7 tópicos para serem aplicados na sua vida a dois, a 8 dica é a mais poderosa de todas:
 
1. Trabalhe seus aspectos emocionais.
 
Estudos mostram que, em geral, as pessoas têm três vezes mais a tendência de responsabilizar o outro pelos problemas conjugais. Entretanto, muitas dificuldades no relacionamento decorrem de questões individuais que podem ser trabalhadas, mais profundamente, através da psicoterapia.
 
Os perfeccionistas exagerados tendem a se sentirem 33% menos satisfação no relacionamento. Pessoas inflexíveis podem ter 38% mais conflitos. Os coléricos experimentam mais desavenças e por um tempo 81% maior. Pessoas altamente competitivas com seus parceiros reduzem em 37% sua satisfação.
 
Dúvidas constantes sobre os seus sentimentos aumentam em até três vezes a chance de divórcio e a frustração pessoal pode ser responsável por 50% dos conflitos.
 
Por outro, lado a satisfação consigo mesmo, aumenta em cinco vezes mais a possiblidade do indivíduo se sentir feliz na relação.
 
2. Reprograme suas crenças e idealizações.
 
Constatou-se que assistir muita TV reduz em 26% a satisfação com seu relacionamento e aumenta três vezes as chances de aceitar estereótipos e fazer suposições sobre os comportamentos e sentimentos do parceiro. Redes sociais e novelas influenciam o divórcio e até na atração sexual dos casais.
 
Outra pesquisa, apontou que elementos de conto de fadas estavam presentes em 78% das crenças que as pessoas tinham sobre o amor romântico, elas apresentavam maior chance de terem desilusão, sofrimento e angústia do que quem deu menos crédito aos contos de fadas. O mesmo foi observado acerca das comédias românticas.
 
Sabemos que as “distorções idealistas” são duas vezes maiores durante o noivado do que na fase do namoro ou do casamento. Pesquisadores descobriram também que as características que primeiro atraíram os apaixonados, em 34% dos casos, deixam de ser relevantes seis meses após o início do namoro.

Claro que as idealizações são inevitáveis: nove em cada dez casais recém-casados, imaginam que seu relacionamento será extraordinário. Contudo, ao despir as fantasias, ao retirar as máscaras e projeções, o importante é saber se estarei disposto a amar aquele(a) que restou.

A crença na força do relacionamento, é um aspecto presente em nove de cada dez casais bem sucedidos.
 
3. Faça planos para o futuro.
 
Casais que buscam formas imediata de prazer, procurando satisfazer seus desejos sem levar em conta as suas necessidades mais profundas, enfrentam duas vezes mais conflitos do que os casais que buscam formas mais generosas e dedicadas de felicidade.
 
Ao passo que pessoas que estavam felizes em seus relacionamentos têm cinco vezes mais perspectivas de longo prazo em sua vida, pensam em futuro distante e investem suas foças para construí-lo e manter o otimismo no futuro eleva em 42% a satisfação.
 
Descobriu-se que cultivar interesses juntos acrescenta 64% mais chances de um casamento duradouro.
 
4. Equilibre todos os aspectos de sua vida.
 
Estresse no trabalho reduz em 38% a satisfação no relacionamento e conflitos no relacionamento diminuem em 20% a satisfação com o trabalho. Os workaholics estão três vezes mais propensos a sentirem que sua vida é insatisfatória. Desavenças por dinheiro são fontes significativa de conflito em mais da metade das relações independentemente do nível de renda .
 
5. Equidade na relação
 
A igualdade na tomada de decisões, nos sacrifícios pelo relacionamento e na divisão de tarefas doméstica aumenta duas vezes mais a satisfação em relação a casais onde não há igualitarismo. Casais que dividem as tarefas domésticas são 19% mais felizes.
 
6. Estratégia para solução de conflitos
 
Diante dos problemas, o bom mesmo é manter a lógica, consciência e bom senso para aumentar em 33% sua satisfação na vida conjugal. Estabelecer regras para a solução de problemas reduz em 12% os conflitos e aumentar em 31% a satisfação. E, ao invés de “remoer” as brigas, busque reprogramar a raiva: 25% dos casais nem lembram sobre o que discutiram, mas “ruminam” os sentimentos.
 
Busque focar nos aspectos positivos do relacionamento para reduzir em 48% das desavenças. O humor é uma ótima estratégia (reduzir em 77% dos tumultos), mas use sem ironia e piadinhas.
 
7. Comunique-se de forma assertiva
 
Estudos com pessoas que viviam casamentos felizes há mais de trinta anos, mostrou que a qualidade da amizade entre os parceiros foi o fator mais citado como responsável pelo sucesso matrimonial.
 
Casais com alto grau de intimidade, que partilham seus pensamentos íntimos, têm 62% mais probabilidade de considerar seu casamento feliz e quando os cônjuges são mais diretos em buscar apoio um no outro têm chances de 61% de se sentirem apoiados no casamento. Por outro lado, casais que nunca discutem a relação têm 38% mais possibilidades de divórcio
 
8. Dica: a mais eficaz de todas!
 
Essa dica vem do papa Francisco: anote! Serve para tudo na vida
 
O segredo de uma vida bem-sucedida
é amar e dar-se em amor

terça-feira, 23 de junho de 2015

É amor ou paixão?

Dizer que uma pessoa está apaixonada e dizer que se estar amando é diferente. Saiba as diferenças nesse artigo.

A paixão tem como foco a aparência, o corpo, o interesse sexual, há reações fisiológicas bem visíveis (palpitação, suor nas mãos, tremedeira, a sensação de “frio na barriga” dentre outras).

A relação se baseia na idealização do amado, os defeitos são minimizados, enquanto as características positivas são exageradas e, por vezes, até fantasiadas. No estado de apaixonamento, o cérebro libera altas doses de dopamina, substância relacionada ao prazer – a mesma sensação pode se viver através da atividade física ou comer chocolate, por exemplo. Essa inundação bioquímica pode durar cerca de seis meses, variando de pessoa para pessoa.
 
 
Na teologia católica, dá-se o nome de “paixões” (ou sentimentos) às “emoções ou movimentos da sensibilidade que inclinam alguém a agir ou não agir em vista do que é experimentado ou imaginado como bom ou mau” (CIC,1763). As principais são o amor, o ódio, o desejo, o medo, a alegria, a tristeza e a cólera (CIC, 1772). Em si, as paixões não são nem boas nem, nem más (CIC, 1767), entretanto, podem se transformar em virtudes ou vícios (CIC, 1768).

Enquanto impulso do desejo, a paixão é eros – o amor (erótico). O papa Bento XVI, em sua primeira encíclica, Deus caritas est, refletiu muito sobre essa questão. Ensina que “o eros está, de certo modo, enraizado na própria natureza do homem” (n.11) e quer ser conduzido “em êxtase” para o Divino “para além de nós próprios, mas por isso mesmo requer um caminho de ascese, renúncias, purificações e sacramentos” (n.05); “necessita de disciplina” e “para dar ao homem, não o prazer de um instante, mas certa amostra do vértice da existência, daquela beatitude para que tende todo o nosso ser” (n.04).

Por isso, “o eros impele o homem ao matrimônio”, afirma o papa, “a uma ligação caracterizada pela unicidade e para sempre” (n.11). A paixão (o eros) pode transformar-se em amor.

Na teologia católica, o amor não é, apenas, sentimento, é uma virtude teologal e também um fruto do Espírito Santo: resultado da graça divina.

O papa Francisco, aos noivos, ensina que “o amor é uma relação”, “uma realidade que cresce” juntos, no intuito de um fazer o outro desenvolver-se, aperfeiçoar-se como pessoa.

“Embora o eros, inicialmente, seja sobretudo, ambicioso, ascendente – facscinação pela grande promessa de felicidade – depois, à medida que se aproxima do outro, far-se-á cada vez menos a pergunta sobre si próprio, procura sempre mais a felicidade do outro, preocupar-se-á cada vez mais dele, doar-se-á e desejará existir para o outro” (Deus caritas est, 7).

São Paulo caracteriza o amor como paciente, prestativo, não inveja, não ostenta, não é orgulhoso, não faz nada de inconveniente, não procura o próprio interesse, não se irrita, não é rancoroso, nem injusto, tudo desculpa, crê, espera suporta (1Cor 13).

O Papa João Paulo II, falando aos jovens franceses, reafirma que
 
“amar é pois essencialmente dar-se aos outros. Longe de ser uma inclinação instintiva, o amor é uma decisão consciente da vontade de ir para os outros. Para poder amar em verdade, é preciso desapegar-se de muitas coisas e sobretudo de si, dar gratuitamente, amar até ao fim. Esta desapropriação de si — obra de grande fôlego — é esgotante e exaltante. É fonte de equilíbrio. É o segredo da felicidade”  

E na encíclica Lumen Fidei (n.27), o papa Francisco nos recorda que “o amor não se pode reduzir a um sentimento que vai e vem. É verdade que o amor tem a ver com a nossa afetividade, mas para a abrir à pessoa amada, e assim iniciar um caminho que faz sair da reclusão no próprio eu e dirigir-se para a outra pessoa, a fim de construir uma relação duradoura; o amor visa a união com a pessoa amada. E aqui se manifesta em que sentido o amor tem necessidade da verdade: apenas na medida em que o amor estiver fundado na verdade é que pode perdurar no tempo, superar o instante efêmero e permanecer firme para sustentar um caminho comum. Se o amor não tivesse relação com a verdade, estaria sujeito à alteração dos sentimentos e não superaria a prova do tempo. Diversamente, o amor verdadeiro unifica todos os elementos da nossa personalidade e torna-se uma luz nova que aponta para uma vida grande e plena. Sem a verdade, o amor não pode oferecer um vínculo sólido, não consegue arrancar o « eu » para fora do seu isolamento, nem libertá-lo do instante fugidio para edificar a vida e produzir fruto”.

São duas realidade distintas, mas que se completam: o amor sem paixão, é amizade; a paixão sem amor é puro hedonismo. O amor purifica a paixão, enquanto este aquece aquele como "centelha de Deus" (Ct 8,6).

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Motivos errados para se iniciar um namoro

Muitos namoros começam pelos motivos errados e, em consequência, ambos podem sair feridos da relação. É preciso exercitar muito o autoconhecimento, a liberdade interior e a maturidade emocional para não se iniciar um namoro por razões equivocada.

 
 
 
Conversando com algumas pessoas e pesquisando em livros e sites da Internet constatamos alguns motivos mais comuns para se iniciar um namoro de forma errada:
Satisfação das próprias necessidades sexuais. Hoje está cada vez mais comum os jovens iniciarem a vida sexual mais cedo. Muitos querem namorar (ou “ficar”) apenas para dar vazão à libido.
A sexualidade tem uma importância muito grande para a formação do ser humano. Entretanto, dar exclusividade ao sexo no relacionamento, pode gerar uma relação de dependência, de dominação, sensação de “vazio” e acarretar na coisificação da pessoa.
Cabe se perguntar honestamente: sinto prazer em estar com aquela pessoa, mesmo sem contatos mais íntimos? Se a resposta for negativa, talvez, deva se refletir sobre seu grau de maturidade emocional.
 
Outras pessoas entram em um relacionamento devido à necessidade de segurança, seja de um(a) parceiro(a) forte, que lhe dê proteção física ou alguém mais rico e poderoso capaz de oferecer estabilidade financeira ou ainda uma pessoa que seja seu “suporte” emocional.
Verdade que segurança é outra de nossas necessidades básicas, entretanto, iniciar um namoro baseado apenas nisso, pode resultar em decepção, haja vista que todos nós possuímos debilidades.
 
Pergunte-se: você será capaz de amar a pessoa com que você namora nos momentos de fragilidade?
Dentre outros motivos errados para se iniciar um namoro, existe o caso daquelas pessoas que buscam o outro apenas pela aparência física. Ora, um dia a beleza se desfaz! E se o relacionamento vive apenas a superfície do ser, tornar-se-á insustentável. Para amar verdadeiramente é preciso conhecer o outro. O livro de Provérbio lembra que
 
A beleza é passageira,
mas a mulher que teme
a Javé merece louvor
(Pr 31,30).
Há muitas pessoas se relacionam amorosamente com outras apenas por uma questão de status social: sonham em casar com alguém de poses, famoso, poderoso. Entretanto, basta observar as inúmeras revistas e programas de fofoca para ver que relações que tem por base esse pensamento estão fadadas ao fracasso.
Em nossa sociedade do “descartável”, há uma crise de valores morais gigantesca e encontramos os motivos mais banais para iniciar um namoro, um noivado ou um casamento. Há pessoas que namoram apenas para mudar de status nas redes sociais, para ter alguém com quem sair na sexta-feira e no sábado à noite, por conveniência de ter um carro ou a possibilidade de frequentar lugares aos quais nunca poderia ir.
Muitos jovens “ficam” por aposta ou competição ou mesmo por tédio e para passar o tempo. Tem aquelas pessoas que investem em uma relação só porque é proibida: o outro é casado ou os pais não deixam, aí namoram escondidos etc.
Talvez, o amigo Leitor ou a amiga Leitora conheça casos de pessoas que se casaram porque a mulher estava grávida ou simplesmente para ter uma festa e ganhar presentes! Razões que desvirtuam o sentido real do sacramento do matrimônio.
Há quem inicia um namoro só porque todos os amigos estão namorando e ela não quer ficar de fora dos “eventos”.
 
O medo de “ficar para titia” ou aqueles pais mais liberais que dizem “essa menina precisa arranjar um namorado...”
A sociedade pós-moderna que criou o mito de que se você estiver sozinho(a) você é uma pessoa infeliz ou mal sucedida! Acontece, porém, que namoro é uma questão vocacional e nem todos recebem o mesmo chamado.
 
Procure descobrir sua vocação, negá-la, muitas vezes, pode conduzir à insatisfação pessoal
Para muitas pessoas, o namoro pode ser motivado pela tendência à fugir das dores: da solidão, do “vazio” interior ou de um ambiente familiar conturbado, necessitando de carinho, cuidado e atenção.
As carências afetivas pessoais podem induzir à relacionamentos de dependência e dominação. A baixa autoestima pode levar algumas pessoas a namorarem qualquer pessoa que lhe dê um pouco de atenção e carinho. A falta de autoconceito elevado pode fazer com que um indivíduo se incline a namorar pessoas que possam humilhá-lo e confirme seus sentimentos de inferioridade. Há sujeitos que, por não saberem dizer “não” e, por isso, são incapazes de ceder as “pressões” da investida de alguém ou aqueles que “ficam” com fulano(a) por “pena” ou só porque “é o que apareceu”.
Muitas pessoas iniciam um namoro querendo viver um romance como nos filmes, novelas ou livros. Mas, isso pode ser prejudicial. Porque não existe amor pleno se não for acompanhado pela fidelidade, pelo acordo, pela generosidade e pela paciência.
Nas palavras do Papa Bento XVI: “para ser autêntico, o amor exige um caminho de amadurecimento (...) O amor vive de gratuidade, de sacrifício de si, de perdão e de respeito do outro” (11/06/2015).
O livro do Eclesiastes lembra que "debaixo do céu há momento para tudo, e tempo certo para cada coisa", inclusive "tempo para amar" (Ecl 3,1.8). São Paulo ensina que “o amor é paciente... não busca o próprio interesse... tudo espera” (1Cor 13,4s.7).
Por fim, ao iniciar um namoro, tenha em mente o sábio conselho de Madre Teresa de Calcutá:
Não ame pela beleza,
pois uma hora ela acaba.
Não ame por admiração,
pois um dia, você se decepciona.
Apenas, ame, pois, o tempo
nunca pode acabar com um amor sem explicação

domingo, 21 de junho de 2015

Imaturidade emocional nos relacionamentos

Para podermos amar verdadeiramente, é necessário certo grau de amadurecimento psicofísico. Conhecemos, porém, inúmeras pessoas que, por uma série de fatores, são imaturas e isso têm lhes custado relacionamentos desastrosos, quer na vida profissional, nas amizades, no namoro, no noivado e até nos casamentos.
 
 
O que caracterizaria, então, uma pessoa imatura?
Uma das características mais notáveis é a defasagem entre a idade cronológica e a idade mental da pessoa: a recusa a crescer. É aquela pessoa excessivamente manhosa, o adulto infantilizado, senhor de idade que se comporta como adolescente, a mulher, apesar da idade, ainda se veste como “garotinha” são alguns exemplos. Há adultos que ainda “chupam” dedo ou “bico”!
Essa fixação infantil pode se exprimir também através do ciúme descabido, o apego demasiado (à família, ao parceiro ou às coisas), são indivíduos extremamente carentes ou dependentes.
Podem sofrer de baixa autoestima, procurando, de todas as maneiras, aprovação, elogio e autoafirmação.
Outro indício de imaturidade é a falta de autoconhecimento: saber de seus gostos, de seus limites, de suas habilidades, conhecimento de seu estado de ânimo, compreensão de suas reais motivações. Há pessoas que não conseguem se decidir ou escolher até mesmo coisas simples porque são cheias de dúvidas e inseguranças e têm um medo intenso de errar.
Imaturidade também se relaciona com a negação dos próprios sentimentos, à fuga do “vazio” e compensações através do excesso de comida, abuso de álcool, drogas, medicamentos... Muitas vezes, nega-se a realidade se refugiando na fantasia, desejando, por exemplo, viver aquele romance dos filmes ou livros.
A instabilidade emocional também é indicativo de uma personalidade pouco amadurecida. A pessoa passa de um estado a outro de humor em pouco tempo, no mesmo dia. É um sujeito variável, irregular, ninguém nunca sabe o que esperar dele. Reage aos eventos de forma desproporcional é pouco tolerante à frustração e às contrariedades da vida.
Pessoas imaturas têm pouca ou nenhuma responsabilidade diante da vida, preferem colocar a culpa nos outros por seus fracassos, tendem a fugir de compromissos sérios e definitivos, como o matrimônio e preferem ficar mudando de relacionamentos.
A imaturidade leva ao imediatismo, à impaciência, não saber esperar ou incapacidade de respeitar limites. Uma personalidade imatura pode muitas vezes ser egocêntrica, hedonista, ter pouco autocontrole e domínio de seus sentimentos, impulsos e desejos. O imaturo, dificilmente, planeja o futuro a dois, a carreira, os estudos.
O imaturo pode se comportar de forma permissiva demais, lasciva e relativista, com poucas convicções, é capaz de mudar de opinião da “água para o vinho”.
A Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, a Declaração Persona Humana - sobre alguns pontos de ética sexual (n.13), afirma que
 
Os pais, em primeiro lugar, como também os educadores da juventude, hão-de esforçar-se por conduzir os seus filhos e os seus educandos à maturidade psicológica, afetiva e moral, em conformidade com a sua idade, por meio de uma educação integral. Para isso dar-lhes-ão uma informação prudente e adaptada à sua idade e procurarão assiduamente formar-lhes a vontade para os costumes cristãos, não só com conselhos, mas sobretudo com o exemplo da sua própria vida e mediante a ajuda de Deus que lhes alcançará a oração. E hão-de ter também o cuidado de os proteger de numerosos perigos de que os jovens não chegam a suspeitar.
Verdade que não somos um produto acabado da criação. O Catecismos da Igreja Católica ensina que nós fomos criados, por Deus, in statu viae (CIC,302), ou seja, em estado de caminhada à perfeição. Isso quer dizer que, ao longo da vida, vamos amadurecendo cada vez mais como pessoa.
Acerca do tema, o papa Bento XVI, na encíclica Deus Caritas Est, sublinha que “é próprio da maturidade do amor, abranger todas as potencialidades do homem e, incluir, por assim dizer, o homem em sua totalidade” (n.17).
E para além de todo psicologismo, o cristão não pode perder a perspectiva de que “a plena maturidade da pessoa e a sua estabilidade interior têm o seu fundamento na relação com Deus, relação que passa através do encontro com Jesus Cristo” (Papa Bento XVI, Angelus, 05/09/2010 ).
 
Caso o querido Leitor e a querida Leitora desejar refletir sobre a sua maturidade acompanhe nossa página no Facebook Guardiões do Amor, lá há um inventário o qual você pode usar, em momento de oração, para meditar sobre sua capacidade de lidar com a vida.

sábado, 20 de junho de 2015

Para pensar o namoro cristão

Selecionamos alguns conselhos da doutrina católica para se viver um namoro com sentido verdadeiramente cristão.
 
A Constituição dogmática Lumen Gentium afirma o sentido do namoro (e outros estados de vida):
 
“Todos os cristãos são, pois, chamados e obrigados a tender à santidade e perfeição do próprio estado. Procurem, por isso, ordenar retamente os próprios afetos” (LG, 42).
 
O papa João Paulo II, na exortação Familiaris Consortio relembra o papel formativo da família na orientação dos jovens no processo de amadurecimento que passa desde o namoro até se consumar no matrimônio:
A família deve orientar, desde à infância, os jovens à descoberta de si, de suas as forças e fragilidades, ao desenvolvimento da personalidade, do caráter, dos valores humanos, do autocontrole, da forma como se relacionar com as pessoas (inclusive do sexo oposto), com a sociedade e com o mundo. Bem como também é o período de se receber uma sólida formação espiritual e catequética sobre os valores cristãos (Familiaris Consortio, n.66).
O papa Bento XVI chegou a afirmar que o namoro tem que ser vivido tendo em vista o matrimônio e o papa Francisco, em encontro com jovens na Umbria, exortou: “não tenhais medo de dar passos definitivos, como o do matrimónio: aprofundai o vosso amor, respeitando os seus tempos e as suas pressões, orai, preparai-vos bem, mas depois tende confiança que o Senhor não vos deixa sozinhos! Fazei-o entrar na vossa casa como um membro da família, e Ele amparar-vos-á sempre”  (4 de Outubro de 2013).
 
O casal deve refletir a imagem de Deus um para o outro. Assim diz o Youcat, o catecismo jovem da Igreja Católica:
 
“Quem observa um casal de namorados olhando-se carinhosamente (...) fica com uma ideia (ainda que longínqua) do Céu. Pode ver Deus face a face é como um instante de amor, único e infindável” (YC, 158).
 
Ora, o que se diz aqui é que um deve ser a imagem e a semelhança de Deus na vida do outro: ao olhar para o namorado, a namorada deve sentir a presença de Deus; ao ver a face da amada, o namorado deve contemplar, de alguma forma, o reflexo do Senhor. O céu não é lugar das coisas passageiras, do provisório, do descartável; mas do amor firme, fiel, eterno. Céu é lugar da presença divina e da santidade.
 
O papa Bento XVI, em um encontro com namorados diz que os namorados têm que testemunhar esse reflexo divino na comunidade. E como fazer isso? Ele dá 10 conselhos práticos:
 
1. Evitar se fechar em “relações intimistas”;
2. Fazer com que o namoro se torne “presença ativa e responsável na comunidade” cristã;
3. Viver o amor como lugar da gratuidade, sacrifício de si, perdão e de respeito ao outro;
4. No namoro, deve-se buscar o amadurecimento;
5. Viver o tempo do namoro na expectativa do dom da vida matrimonial;
6. Deve-se percorrê-lo como um “caminho de conhecimento”
7. Procurar, desde já, “educar-se para a fidelidade”
8. Não se deve acelerar as etapas, pois isso “acaba por comprometer o amor”, que, ao contrário precisa, de respeitar os tempos e a gradualidade nas expressões;
9. O namoro deve “dar espaço a Cristo, que é capaz de tornar um amor humano fiel, feliz e indissolúvel”;
10. O casal deve “procurar e acolher a companhia da Igreja”. 
 
O Catecismo da Igreja Católica (CIC, 2350), referindo-se aos noivos, mas também podendo se aplicar aos namorados, ensina que:
  • “Os noivos (e namorados) são convidados a viver a castidade na continência”;
  • Viver “uma descoberta do respeito mútuo”
  • A “aprendizagem da fidelidade e da esperança de se receberem ambos da parte de Deus”;
  • “Reservarão para o tempo do casamento as manifestações de ternura específicas do amor conjugal”;
  • E também: “ajudar-se-ão mutuamente a crescer na castidade” (CIC, 2350).
O documento Sexualidade Humana, do Conselho Pontifício da Família, ensina que:
 
“A castidade exige que se evitem certos pensamentos, palavras e ações pecaminosas” (Sexualidade Humana, 18);
 
Deve-se ainda evitar “ocasiões de provocação e de incentivo ao pecado [bem] como saber superar os impulsos da própria natureza” (Sexualidade Humana, 18);
 
E ainda procurar “disciplinar os sentimentos, as paixões e os afetos” (Sexualidade Humana, 16);
 
Papa Bento XVI, em pronunciamento no Brasil (10 maio de 2007), também lembrou aos jovens que devem procurar “resistir com fortaleza às insídias do mal existente em muitos ambientes, que vos leva a uma vida dissoluta, paradoxalmente vazia, ao fazer perder o bem precioso da vossa liberdade e da vossa verdadeira felicidade”.
 
A Sagrada Congregação para a educação Católica, ao traçar as linhas gerais para uma educação sexual  nos lembra que:
 
As relações íntimas devem-se realizar somente no matrimônio (n.95);
 
E que “estão-se difundindo cada vez mais entre os adolescentes e os jovens certas manifestações de tipo sexual que por si se dirigem à relação completa sem, porém, chegar à sua realização; manifestações da genitalidade que são uma desordem moral, porque se dão fora de um contexto matrimonial”.
 
Ao contrário o documento lembra, na esteira de todo o pensamento da Igreja sobre o tema, que “o verdadeiro amor é capacidade de abertura ao próximo numa ajuda generosa, é dedicação ao outro para o bem dele; sabe respeitar a personalidade e a liberdade do outro; não é egoísta, não se procura a si próprio no outro, é oblativo, não possessivo. O instinto sexual, ao contrário, se entregue a si próprio, reduz-se à genitalidade e tende a dominar o outro, procurando imediatamente uma satisfação pessoal”.
 
Verdade que a Igreja reconhece que esse é um esforço muito grande e mas “torna-se possível pela graça divina mediante a palavra de Deus acolhida com fé, a oração filial e a participação nos Sacramentos, sobretudo, a Eucaristia e a Reconciliação” (n. 45), bem como “a oração pessoal e comunitária” como “o meio insubstituível para conseguir de Deus a força necessária para manter fidelidade aos compromissos baptismais, para resistir aos impulsos da natureza humana ferida pelo pecado e para equilibrar as emoções provocadas pelas influências negativas do ambiente” (n. 46).
 
Por isso, o papa Francisco aconselha que os namorados e noivos rezem um pelo outro e propõe a seguinte oração: “Senhor, o amor nosso de cada dia nos dai hoje”.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Para amar, preciso me conhecer

Na exortação apostólica Familiaris Consortio (n. 66), o papa João Paulo II fala de um processo formativo integral para o matrimônio, o qual se inicia na infância, perpassando toda a vida humana, inclusive, pelo namoro e matrimônio.

Nessa “preparação remota”, a pessoa deveria ser orientada pelos pais (bem como responsáveis) à descoberta de si, de suas as forças e fragilidades, ao desenvolvimento da personalidade, do caráter, dos valores humanos, do autocontrole, da forma como se relacionar com as pessoas (inclusive do sexo oposto), com a sociedade e com o mundo e receber uma sólida formação espiritual e catequética acerca os valores cristãos.

Verdade que essa “pedagogia para o amor” (para nos utilizarmos de uma expressão do papa Bento XVI) acontece cada vez menos no seio das famílias. Infelizmente, as consequências não são boas e repercutem no futuro relacionamento, quer dos jovens namorados, noivos e até casados: pesquisas apontam que 3 em cada 5 mulheres jovens já sofreram violência em relacionamentos; 48% das mulheres agredidas declaram que a violência aconteceu em sua própria residência(01); o crescente número de divórcios - foram registrados 54.299 divórcios em 2014(02).

Lendo o livro de David Niven, “Os 100 segredos dos bons relacionamentos”, no qual se reúne uma série de estudos científicos sobre os casais felizes, percebe-se que muitos dos problemas de relacionamento (dos mais leves aos mais graves) acontecem porque as pessoas não se conhecem bem e, por isso, não trabalham suas questões emocionais mais profundas. Então, se eu quero ter um relacionamento bem sucedido, devo buscar o autoconhecimento.

O Papa Francisco, certa vez, se dirigindo a um grupo de jovens, afirmou que “temos o dever de nos conhecermos a nós mesmos, todos: cada qual deve conhecer-se a si mesmo, procurando os pontos nos quais podemos cometer mais erros, e ter um pouco de receio daqueles pontos”(03). Essa é uma busca fundamental do ser humano de todos os tempos e lugares.

Mas, o que é significa autoconhecimento? Trata-se de descobrir suas qualidade e defeitos, capacidades e limites, pontos fortes e debilidades, virtudes, valores, medos, gostos, preconceitos, aptidões, reconhecer os traços que compões a sua personalidade, caráter, suas carências, motivações, necessidades, perceber seus sentimentos e emoções etc.

Tudo isso, exige um grande esforço de autopercepção, autorreflexão, sinceridade, humildade. E como se consegue isso? Há uma infinidade de formas: (auto)avaliação de nossos pensamentos, sentimentos  e comportamentos – existem muitos testes que podem auxiliar nesse quesito – psicoterapia, as artes, os esportes, a introspecção...

Aqui, gostaria de falar sobre a espiritualidade. Viver a dois, não significa anular as diferenças e individualidade de cada um; tal como a Santíssima Trindade, onde há um só Deus, mas em Três pessoas divinas distintas (Pai, Filho e Espírito Santo), o casal deve viver essa comunhão, mas também viver sua individualidade: rezar juntos, mas também rezar separados, a fim de buscar também essa vivência própria com Deus e seu autoconhecimento.


O Papa João Paulo II nos recorda que “o homem deve, primeiro que tudo, entrar em si mesmo, deve conhecer-se profundamente, deve descobrir dentro de si a aspiração para Deus e os vestígios do Absoluto”(04). Diversos textos da Igreja afirmam que é a luz do Cristo que o homem é capaz do conhecer quem é verdadeiramente.

Contudo, o encontro com Cristo não pode se reduzir ao autoconhecimento, tem que ter “sabor de transcendência e missionaridade” como ensina o papa Francisco(05).

“O autoconhecimento acompanha o conhecimento do mundo, de todas as criaturas visíveis, de todos os seres vivos a que o homem deu nomes para afirmar em confronto com eles a própria diversidade” – a firma o papa João Paulo II(06). Conhecer-se tem a ver também com assumir toda sua história de vida, seus vínculos afetivos, familiares e sociais.

Poderia se dizer também que no encontro com o outro (o qual também carrega consigo qualidades e defeitos, capacidades e limites, subjetividade, uma história e vínculos distintos aos meus e até complementares) vou descobrindo novos recantos sobre mim mesmo.

E como saberei que adquiri autoconhecimento? Autoconhecimento não se adquire, se vive; é um processo para a vida toda; cada dia, nos encontros e desencontros, vou me descobrindo. Sou tudo aquilo que penso, julgo, sinto, valorizo, honro, estimo, amo, detesto, espero, acredito, me comprometo... “cada um de nós é o fruto de um pensamento de Deus” (Papa Bento XVI): sou imagem e semelhança do meu Deus!
 
E para que o nosso namoro, noivado e o casamento deem certo, quem quiser me amar tem que saber respeitar esses parâmetros.
 
NOTAS: