terça-feira, 23 de junho de 2015

É amor ou paixão?

Dizer que uma pessoa está apaixonada e dizer que se estar amando é diferente. Saiba as diferenças nesse artigo.

A paixão tem como foco a aparência, o corpo, o interesse sexual, há reações fisiológicas bem visíveis (palpitação, suor nas mãos, tremedeira, a sensação de “frio na barriga” dentre outras).

A relação se baseia na idealização do amado, os defeitos são minimizados, enquanto as características positivas são exageradas e, por vezes, até fantasiadas. No estado de apaixonamento, o cérebro libera altas doses de dopamina, substância relacionada ao prazer – a mesma sensação pode se viver através da atividade física ou comer chocolate, por exemplo. Essa inundação bioquímica pode durar cerca de seis meses, variando de pessoa para pessoa.
 
 
Na teologia católica, dá-se o nome de “paixões” (ou sentimentos) às “emoções ou movimentos da sensibilidade que inclinam alguém a agir ou não agir em vista do que é experimentado ou imaginado como bom ou mau” (CIC,1763). As principais são o amor, o ódio, o desejo, o medo, a alegria, a tristeza e a cólera (CIC, 1772). Em si, as paixões não são nem boas nem, nem más (CIC, 1767), entretanto, podem se transformar em virtudes ou vícios (CIC, 1768).

Enquanto impulso do desejo, a paixão é eros – o amor (erótico). O papa Bento XVI, em sua primeira encíclica, Deus caritas est, refletiu muito sobre essa questão. Ensina que “o eros está, de certo modo, enraizado na própria natureza do homem” (n.11) e quer ser conduzido “em êxtase” para o Divino “para além de nós próprios, mas por isso mesmo requer um caminho de ascese, renúncias, purificações e sacramentos” (n.05); “necessita de disciplina” e “para dar ao homem, não o prazer de um instante, mas certa amostra do vértice da existência, daquela beatitude para que tende todo o nosso ser” (n.04).

Por isso, “o eros impele o homem ao matrimônio”, afirma o papa, “a uma ligação caracterizada pela unicidade e para sempre” (n.11). A paixão (o eros) pode transformar-se em amor.

Na teologia católica, o amor não é, apenas, sentimento, é uma virtude teologal e também um fruto do Espírito Santo: resultado da graça divina.

O papa Francisco, aos noivos, ensina que “o amor é uma relação”, “uma realidade que cresce” juntos, no intuito de um fazer o outro desenvolver-se, aperfeiçoar-se como pessoa.

“Embora o eros, inicialmente, seja sobretudo, ambicioso, ascendente – facscinação pela grande promessa de felicidade – depois, à medida que se aproxima do outro, far-se-á cada vez menos a pergunta sobre si próprio, procura sempre mais a felicidade do outro, preocupar-se-á cada vez mais dele, doar-se-á e desejará existir para o outro” (Deus caritas est, 7).

São Paulo caracteriza o amor como paciente, prestativo, não inveja, não ostenta, não é orgulhoso, não faz nada de inconveniente, não procura o próprio interesse, não se irrita, não é rancoroso, nem injusto, tudo desculpa, crê, espera suporta (1Cor 13).

O Papa João Paulo II, falando aos jovens franceses, reafirma que
 
“amar é pois essencialmente dar-se aos outros. Longe de ser uma inclinação instintiva, o amor é uma decisão consciente da vontade de ir para os outros. Para poder amar em verdade, é preciso desapegar-se de muitas coisas e sobretudo de si, dar gratuitamente, amar até ao fim. Esta desapropriação de si — obra de grande fôlego — é esgotante e exaltante. É fonte de equilíbrio. É o segredo da felicidade”  

E na encíclica Lumen Fidei (n.27), o papa Francisco nos recorda que “o amor não se pode reduzir a um sentimento que vai e vem. É verdade que o amor tem a ver com a nossa afetividade, mas para a abrir à pessoa amada, e assim iniciar um caminho que faz sair da reclusão no próprio eu e dirigir-se para a outra pessoa, a fim de construir uma relação duradoura; o amor visa a união com a pessoa amada. E aqui se manifesta em que sentido o amor tem necessidade da verdade: apenas na medida em que o amor estiver fundado na verdade é que pode perdurar no tempo, superar o instante efêmero e permanecer firme para sustentar um caminho comum. Se o amor não tivesse relação com a verdade, estaria sujeito à alteração dos sentimentos e não superaria a prova do tempo. Diversamente, o amor verdadeiro unifica todos os elementos da nossa personalidade e torna-se uma luz nova que aponta para uma vida grande e plena. Sem a verdade, o amor não pode oferecer um vínculo sólido, não consegue arrancar o « eu » para fora do seu isolamento, nem libertá-lo do instante fugidio para edificar a vida e produzir fruto”.

São duas realidade distintas, mas que se completam: o amor sem paixão, é amizade; a paixão sem amor é puro hedonismo. O amor purifica a paixão, enquanto este aquece aquele como "centelha de Deus" (Ct 8,6).

Nenhum comentário:

Postar um comentário