sexta-feira, 19 de junho de 2015

Para amar, preciso me conhecer

Na exortação apostólica Familiaris Consortio (n. 66), o papa João Paulo II fala de um processo formativo integral para o matrimônio, o qual se inicia na infância, perpassando toda a vida humana, inclusive, pelo namoro e matrimônio.

Nessa “preparação remota”, a pessoa deveria ser orientada pelos pais (bem como responsáveis) à descoberta de si, de suas as forças e fragilidades, ao desenvolvimento da personalidade, do caráter, dos valores humanos, do autocontrole, da forma como se relacionar com as pessoas (inclusive do sexo oposto), com a sociedade e com o mundo e receber uma sólida formação espiritual e catequética acerca os valores cristãos.

Verdade que essa “pedagogia para o amor” (para nos utilizarmos de uma expressão do papa Bento XVI) acontece cada vez menos no seio das famílias. Infelizmente, as consequências não são boas e repercutem no futuro relacionamento, quer dos jovens namorados, noivos e até casados: pesquisas apontam que 3 em cada 5 mulheres jovens já sofreram violência em relacionamentos; 48% das mulheres agredidas declaram que a violência aconteceu em sua própria residência(01); o crescente número de divórcios - foram registrados 54.299 divórcios em 2014(02).

Lendo o livro de David Niven, “Os 100 segredos dos bons relacionamentos”, no qual se reúne uma série de estudos científicos sobre os casais felizes, percebe-se que muitos dos problemas de relacionamento (dos mais leves aos mais graves) acontecem porque as pessoas não se conhecem bem e, por isso, não trabalham suas questões emocionais mais profundas. Então, se eu quero ter um relacionamento bem sucedido, devo buscar o autoconhecimento.

O Papa Francisco, certa vez, se dirigindo a um grupo de jovens, afirmou que “temos o dever de nos conhecermos a nós mesmos, todos: cada qual deve conhecer-se a si mesmo, procurando os pontos nos quais podemos cometer mais erros, e ter um pouco de receio daqueles pontos”(03). Essa é uma busca fundamental do ser humano de todos os tempos e lugares.

Mas, o que é significa autoconhecimento? Trata-se de descobrir suas qualidade e defeitos, capacidades e limites, pontos fortes e debilidades, virtudes, valores, medos, gostos, preconceitos, aptidões, reconhecer os traços que compões a sua personalidade, caráter, suas carências, motivações, necessidades, perceber seus sentimentos e emoções etc.

Tudo isso, exige um grande esforço de autopercepção, autorreflexão, sinceridade, humildade. E como se consegue isso? Há uma infinidade de formas: (auto)avaliação de nossos pensamentos, sentimentos  e comportamentos – existem muitos testes que podem auxiliar nesse quesito – psicoterapia, as artes, os esportes, a introspecção...

Aqui, gostaria de falar sobre a espiritualidade. Viver a dois, não significa anular as diferenças e individualidade de cada um; tal como a Santíssima Trindade, onde há um só Deus, mas em Três pessoas divinas distintas (Pai, Filho e Espírito Santo), o casal deve viver essa comunhão, mas também viver sua individualidade: rezar juntos, mas também rezar separados, a fim de buscar também essa vivência própria com Deus e seu autoconhecimento.


O Papa João Paulo II nos recorda que “o homem deve, primeiro que tudo, entrar em si mesmo, deve conhecer-se profundamente, deve descobrir dentro de si a aspiração para Deus e os vestígios do Absoluto”(04). Diversos textos da Igreja afirmam que é a luz do Cristo que o homem é capaz do conhecer quem é verdadeiramente.

Contudo, o encontro com Cristo não pode se reduzir ao autoconhecimento, tem que ter “sabor de transcendência e missionaridade” como ensina o papa Francisco(05).

“O autoconhecimento acompanha o conhecimento do mundo, de todas as criaturas visíveis, de todos os seres vivos a que o homem deu nomes para afirmar em confronto com eles a própria diversidade” – a firma o papa João Paulo II(06). Conhecer-se tem a ver também com assumir toda sua história de vida, seus vínculos afetivos, familiares e sociais.

Poderia se dizer também que no encontro com o outro (o qual também carrega consigo qualidades e defeitos, capacidades e limites, subjetividade, uma história e vínculos distintos aos meus e até complementares) vou descobrindo novos recantos sobre mim mesmo.

E como saberei que adquiri autoconhecimento? Autoconhecimento não se adquire, se vive; é um processo para a vida toda; cada dia, nos encontros e desencontros, vou me descobrindo. Sou tudo aquilo que penso, julgo, sinto, valorizo, honro, estimo, amo, detesto, espero, acredito, me comprometo... “cada um de nós é o fruto de um pensamento de Deus” (Papa Bento XVI): sou imagem e semelhança do meu Deus!
 
E para que o nosso namoro, noivado e o casamento deem certo, quem quiser me amar tem que saber respeitar esses parâmetros.
 
NOTAS:

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