Selecionamos um fragmento do discurso do Papa Paulo VI aos casais, realizado no dia 4 de Maio de 1970 ressaltando a importância do matrimônio.
(...)
(...)
Obra do Espírito Santo (cfr. Tit 3, 5), a regeneração baptismal faz de nós criaturas novas (cfr. Gál 6, 15), para que « assim caminhemos nós, também, muna vida nova » (Rom 6, 4). Nesta grande empresa de renovação de todas as coisas em Cristo, o matrimónio, também ele purificado e renovado, torna-se uma realidade nova, um sacramento da Nova Aliança. E, eis que no limiar do Novo Testamento, como na entrada do Antigo, se forma um casal. Mas, ao passo que aquele, formado por Adão e Eva, foi a fonte do mal que se espalhou sobre o mundo, o de José e Maria é a plenitude de onde a santidade se expande sobre toda a terra. O Salvador começou a Sua obra salvífica com esta união virginal e santa, onde se manifesta a sua vontade todo-poderosa de purificar e santificar a família, este santuário do amor e este berço da vida.
Desde então tudo se transformou. Dois cristãos querem casar-se; São Paulo adverte-os: «...não vos pertenceis a vós mesmos » (1 Cor 6, 19). Membros de Cristo, um e outro « no Senhor », a sua união realiza-se também « no Senhor », como a da Igreja. E é por esta razão que ela é « um grande mistério » (Ef 5, 32), um sinal que não só representa o mistério da união de Cristo com a Igreja, mas também o encerra e irradia por meio da graça do Espírito Santo, que é a sua alma vivificadora.
Porque é exatamente o amor, próprio de Deus, que ele nos comunica, para que nós o amemos e para que também o amemos com este amor divino: « assim como Eu vos amei, vós também vos deveis amar uns aos outros » (Jo 13, 34).
Até as manifestações da sua ternura são,
para os esposos cristãos, penetradas deste amor que eles vão haurir no coração de Deus.
E, se a nascente humana corresse o perigo de secar, a sua nascente divina é tão inesgotável como as profundezas insondáveis da ternura de Deus. Por outras palavras, a caridade conjugal, forte e rica, tende para essa comunhão íntima. Realidade interior e espiritual, ela transforma a comunidade de vida dos esposos naquilo «que bem pode chamar-se Igreja doméstica» (Lumen Gentium, n. 11), uma verdadeira «célula da Igreja», como disse o Nosso saudoso predecessor João XXIII, à vossa peregrinação de 3 de Maio de 1959 (Discorsi, messaggi, colloqui dei Santo Padre Giovanni XXIII, I, Tip. Pol. Vat., p. 298), célula de base, célula germinal, sem dúvida a mais pequena, mas também a mais fundamental do organismo eclesial.
Este é o mistério em que está radicado o amor conjugal e que ilumina todas as suas manifestações. Mistério da Encarnação, que exalta as nossas virtudes humanas, penetrando-as internamente. Longe de as menosprezar, o amor cristão condu-las, verdadeiramente, à sua plenitude, com paciência, generosidade, força e doçura (...)
Porque, se a fascinação da carne é perigosa, a tentação do angelismo não o é menos, e uma realidade desprezada não demora muito a reivindicar o seu lugar. Também, conscientes de guardar os seus tesouros em vasos de argila (cfr. 2 Cor 4, 7), os esposos cristãos procurem esforçar-se, com humilde fervor, por traduzir, na sua vida conjugal, as recomendações do Apóstolo São Paulo: «os vossos corpos são membros de Cristo..., o vosso corpo é templo do Espírito Santo...; glorificai pois a Deus no vosso corpo » (1 Cor 6, 15. 19. 20).
«Casados no Senhor», os esposos não podem unir-se, daí por diante, senão no nome de Cristo, a quem eles pertencem e por quem eles devem trabalhar como seus membros ativos. Eles não podem, portanto, dispor do seu corpo, especialmente porque ele é princípio de geração, senão no espírito e para a obra de Cristo, porque eles são membros de Cristo.
«Colaboradores livres e responsáveis do Criador » (Humanae Vitae, n. 1), os esposos cristãos veem a sua fecundidade carnal adquirir assim uma nobreza nova. O impulso, que os leva a unirem-se, é portador de vida e permite que deem filhos a Deus. (...)
Dilectos filhos e filhas, vós estais bem convencidos de que só vivendo a graça do sacramento do Matrimónio caminhais com « um amor incansável e generoso » (Ibid n. 41) para esta santidade a que todos nós somos chamados pela graça (cfr., Mt 5, 48; 1 Tes 4, 3; Ef 1, 4), e não por uma exigência arbitrária, mas pelo amor de um Pai que quer o pleno desenvolvimento e a felicidade total dos seus filhos.
De resto, para a alcançar, não fostes abandonados a vós mesmos, porque Cristo e o Espírito Santo, « estas duas mãos de Deus », segundo a expressão de Santo Irineu, trabalham por vós sem descanso (cfr. Adversus Haereses IV, 28, 4 em: PG 7, 1.200). Não vos deixeis, portanto, desviar pelas tentações, pelas dificuldades, pelas provações que aparecerem pelo caminho, sem o temor de ir, quando for preciso, contra a corrente do que se diz e pensa num mundo de atitudes paganizadas. São Paulo advertia-nos: «não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente » (Rom 12, 2).
Nunca vos desencorajeis nos momentos de fraqueza: o nosso Deus é um Pai cheio de ternura e de bondade, cheio de solicitude e transbordante de amor pelos seus filhos, que, algumas vezes, encontram dificuldades no seu caminho. E a Igreja é a mãe que vos quer ajudar a viver, toda a vida, este ideal do matrimónio cristão, do qual ela vos lembra, com bondade, todas as exigências.
De resto, para a alcançar, não fostes abandonados a vós mesmos, porque Cristo e o Espírito Santo, « estas duas mãos de Deus », segundo a expressão de Santo Irineu, trabalham por vós sem descanso (cfr. Adversus Haereses IV, 28, 4 em: PG 7, 1.200). Não vos deixeis, portanto, desviar pelas tentações, pelas dificuldades, pelas provações que aparecerem pelo caminho, sem o temor de ir, quando for preciso, contra a corrente do que se diz e pensa num mundo de atitudes paganizadas. São Paulo advertia-nos: «não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente » (Rom 12, 2).
Nunca vos desencorajeis nos momentos de fraqueza: o nosso Deus é um Pai cheio de ternura e de bondade, cheio de solicitude e transbordante de amor pelos seus filhos, que, algumas vezes, encontram dificuldades no seu caminho. E a Igreja é a mãe que vos quer ajudar a viver, toda a vida, este ideal do matrimónio cristão, do qual ela vos lembra, com bondade, todas as exigências.
(...)
O caminho dos esposos, como toda a vida humana, tem muitas etapas, comportando fases difíceis e dolorosas — tendes prova disso com o passar dos anos. Mas é preciso dizê-lo em voz alta: a angústia e o medo nunca deveriam anidar-se nas almas de boa-vontade, porque
Ter consciência de que ainda não se conquistou a própria liberdade interior, que se está ainda submetido ao impulso das próprias tendências, descobrir-se como incapaz de respeitar, dum momento para o outro, a lei moral, num domínio tão fundamental, suscita, naturalmente, uma reação de angústia. É, porém, o momento decisivo, em que o cristão, na sua desordem, em vez de se abandonar à revolta estéril e destruidora, acede na humildade à descoberta perturbadora do homem perante Deus, um pecador diante do amor de Cristo Salvador.
Afinal, não é o Evangelho uma boa-nova
também para os casais, e uma mensagem que,
sendo exigente, não é menos profundamente libertadora?
Ter consciência de que ainda não se conquistou a própria liberdade interior, que se está ainda submetido ao impulso das próprias tendências, descobrir-se como incapaz de respeitar, dum momento para o outro, a lei moral, num domínio tão fundamental, suscita, naturalmente, uma reação de angústia. É, porém, o momento decisivo, em que o cristão, na sua desordem, em vez de se abandonar à revolta estéril e destruidora, acede na humildade à descoberta perturbadora do homem perante Deus, um pecador diante do amor de Cristo Salvador.
A partir desta tomada de consciência radical, todo o progresso da vida moral se torna atraente, os casais encontram-se também «evangelizados» no seu íntimo, os esposos descobrem «com temor e tremor » (Fil 2, 12), mas também com uma alegria admirada, que no seu matrimónio, como na união de Cristo com a Igreja, é o mistério pascal da morte e da ressurreição que se realiza. No seio da grande Igreja, esta pequena Igreja conhece-se então por aquilo que na realidade é: uma comunidade fraca e às vezes pecadora e penitente, mas perdoada, a caminho para a santidade,« na paz de Deus, que sobrepuja todo o entendimento » (Fil 4, 7).
Longe de estar, portanto, ao abrigo de qualquer fraqueza — « quem pensa estar de pé, veja que não caia » (1 Cor 10, 12) e de estar dispensado de um esforço perseverante, às vezes em condições cruéis que só o pensamento de tomar parte na paixão de Cristo pode levar a suportar (cfr. Col 1, 24), os esposos sabem, pelo menos, que as exigências da vida moral conjugal, que a Igreja lhes recorda, não são leis intoleráveis nem impraticáveis, mas um dom de Deus para os ajudar a aceder, por meio e além das suas fraquezas, às riquezas de um amor plenamente humano e cristão.
Desde então, longe de ter o sentimento angustioso de se encontrarem como que fechados num beco sem saída e, segundo os casos, de se entregarem talvez à sensualidade, abandonando todas as práticas sacramentais, de se revoltarem contra a Igreja, considerando-a como inumana, ou de persistirem num esforço impossível, a custo de perderem a harmonia e o equilíbrio, isto é, a sobrevivência do lar, os esposos entregar-se-ão à esperança, na certeza de que todos os recursos da graça da Igreja estão à disposição para os ajudar a encaminharem-se para a perfeição do seu amor.
São estas as perspectivas em que vivem os casais cristãos, em todo o mundo:
(...)
A boa-nova da salvação em Cristo, progredindo para a santidade no matrimónio e por meio dele, com a luz, a força e a alegria do Salvador.
(...)
Nenhum comentário:
Postar um comentário